sábado, 25 de outubro de 2008

CAPÍTULO VI - A CHEGADA DA PRIMOGÊNITA

Aos dois meses de casados, Vitor e Helena estavam felizes e os problemas do dia a dia eram como o de todo o casal normal. Tudo corria bem. Tinham uma vida em comum saudável e a próxima benção logo viria num dia que Helena fôra ao médico buscar o resultado de um exame e exultante iria participar ao marido em seu trabalho:
- Vitor!
- Você por aqui? Que grata surpresa, amor!
- É que eu tinha que contar uma grande notícia pra você – Os olhares de cumplicidade se comunicavam e Vitor logo prevê:
- É o que eu estou pensando?
- Estou grávida, amor! – Vitor não se controla e anuncia:
- Vou ser pai!
- Amor, fala mais baixo!
- Eu quero que o mundo saiba que eu vou ser pai! Vamos comemorar! Na saída do trabalho vamos jantar fora!
Durante o jantar os dois fazem planos.
- Vai ser uma menina. – afirmou Vitor -Chega de tanto homem na “Dinastia dos Castelli”. Qual poderá ser o nome?
- A dinda sugeriu que se eu tivesse um dia uma menina, desse o nome Roberta.
- Pelo menos em alguma coisa nós concordamos.
- Ah, Vitor...Ainda esta implicância com ela?
- Ela é que não gosta de mim.
- Não é isto, Vitor. É que ela tinha medo quando você era envolvido com aquele pessoal de política.
- E o que ela tem com isto?
- Ela tinha medo por minha causa. Temia que eu viesse a sofrer alguma conseqüência.
- Lelê se for preciso eu ainda ajudarei algum amigo. Assim como pedi pelo Otávio e pelo Olavo. Sinto falta dos meus amigos, mas minha consciência está tranqüila. Você não viria a sofrer nada, eu tenho bons contatos.
- Não vamos falar mais sobre isto, amor.
- Garçom, mais um chope!
- Manera, amor.
- Ah, Lelê, chope não embriaga ninguém.
- Contanto que seja com moderação.
Apesar dos avisos de Helena, para Vitor toda comemoração tinha que ser “regada com alguma bebida”. Naquela noite, por um verdadeiro livramento de Deus, não ocorreu um desastre, pois Vitor dirigia “costurando”, deixando Helena apavorada. Chegando em casa, Helena argumenta:
- Vitor, você abusou outra vez.
- Lelê, eu estou só comemorando!
- Mas você pode comemorar com limites.
- Ah...não vamos discutir.
- Toma um banho e deita, amor.
- Não precisa recomendar nada, eu estou bem grandinho.
- E você não precisa ser agressivo.
- Tá... desculpe.
No dia seguinte, Helena chama Vitor, que como já era de se esperar, estava com uma tremenda ressaca.
- Vitor acorda! Já está em cima da hora!
- Ai...Que dor de cabeça!
- Agora vê se aprende, não abusa.
- Ah, Lelê, já amanhece me dando sermão! Já chega a minha mãe!
- Toma um banho de água fria que cura a ressaca!
- Ah, não enche!
- Que mau humor!
Os meses vão passando e a chegada do 1º herdeiro – que seria herdeira – vai se aproximando. Num fim de tarde de domingo, quando o casal acabara de sair da casa de Marisa e entrara no carro, Helena tranqüilamente informou:
- A bolsa estourou.
- O quê?!
- Calma Vitor, ainda tem doze horas pra nascer.
- Vamos pro hospital.
- Primeiro vamos passar em casa. Eu vou pegar as minhas camisolas, as roupinhas do neném.
- Temos que ser rápidos.
- Calma! Vamos arrumar as coisas e vamos.
O nascimento de Roberta foi tranqüilo. No hospital, estavam presentes o casal Carajás, Heloísa e Marisa.

O coronel entusiasmado comenta:
- Minha neta é a mais bonita do berçário!
- Que dirá a mais feia!
- Ela é linda!
- É horrorosa!
- Mãe desnaturada!
- Gente, ela acabou de nascer de parto normal, ainda não pode ser linda! – observa Heloísa.
As visitas vão ao quarto e Vitor, que estivera comemorando com os amigos, chega.
- Vitor! Vá lavar as mãos! – adverte Heloísa.
- Mas não estão sujas, Lolô! – responde Vitor.
- Como é que não estão, cunhado? Você está vindo da rua! Não quer zelar pela sua filha? Você só põe as mãos na minha afilhada depois de lavá-las. Eu falo em nome do meu curso de enfermagem e do Ministério da Saúde!
- Vai filho, pelo bem da sua filha. – reforça carinhosamente Marisa.
- Está bem, está bem!
- Espera um pouco, mais uma coisa, cunhado.
- O que?
- Escove os dentes também, que este bafo de bebida está chegando até aqui.
- Ai...Tá... – Vitor vai lavar as mãos e escova os dentes. Helena lamenta:
- Gente, pro Vitor toda a comemoração tem que ter alguma bebida.
Quando Vitor volta, Heloísa pede:
- Vitor toma este café.
- Pra quê?
- Você ainda pergunta? Pra você sossegar, “esvaziar a cara!” Faça isto pela sua mulher e pela sua filha!
- Ah! Está bem, está bem! – bebe contrariado.
A alegria de Vitor por ser pai era grande, mas seu vício era maior. Mesmo com as orações e conselhos da mãe, a energia da cunhada e o amor da esposa, não dispensava o chope com a roda de amigos na saída do trabalho.
Num fim de semana, chega eufórico com as faces rubras dando sinal de que já havia bebido. Helena olha para uma sacola cheia de cervejas na mão do marido escrito: “OBRIGADO VASCO!” E pergunta:
- Vitor, o que é isto?
- Ganhei uma aposta que fiz com os amigos, Lelê! O Vasco é campeão! “Vasco da Gama, és o orgulho do Brasil!” – cantarola aos risos.
Edite, que estava vendo Bertinha no quarto ouve e aparece na sala.
- Que está havendo aqui?
- Ah...A senhora está aí? – Vitor decepciona-se com a presença da madrinha da esposa.
- É...Pra sua infelicidade...
- Dinda! Não provoca! – repreende Helena.
- Desculpe minha filha, mas é difícil.
- Difícil o que? A senhora nos sustenta? Paga nossas contas? – desafia Vitor.
- Querida, eu já vou, não quero discutir.
- É bom mesmo, melhor que não volte! – retruca Vitor.
- Ela é minha madrinha, volta aqui quando quiser! – responde Helena.
- Então que seja quando eu não estiver em casa!
- Tchau, Lelê. – despede-se Edite.
- Adeus, dona Edite! – fala Vitor com sarcasmo. Edite vai embora ingnorando – o
- Só vem aqui pra encher! – Vitor continua a reclamar e Elisa que estava ajudando Helena, ouve e procura contemporizar:
- Vitor, o que está acontecendo?
- Aquela “dona”, que vem aqui pra me azucrinar! – Helena faz menção em responder, mas Elisa com um gesto com a mão consegue contê-la.
- Ô, Vitor, ainda esta implicância?
- Que ela tem comigo, né?
- Vitor, eu gosto tanto de vocês, dei a maior força pra se casarem. Você vai se aborrecer por causa da dona Edite? Ela tem este gênio, mas é boa pessoa. Ela se preocupa com a Lelê.
- Mas ninguém pode negar que é implicante. Já a ouvi dizer ao Coronel que eu sou um agitador, um “pau d´água!”
- Vitor, não “dá bola”, ela fala sem pensar. Ela trabalha pro governo, acha o pessoal envolvido com política perigoso, é uma pessoa de outra geração, “Esfria”, amigo. Vai tomar um banho que eu fiz uma comidinha gostosa. Pede desculpa pra Lelê. – Elisa chega perto dele falando baixo.
- Desculpe Lelê.
- Tá desculpado, amor.
- Fico feliz de ver vocês se entenderem. Vitor, como a Bertinha está linda! Os olhos dela vão continuar azuis, quando ela nasceu eram acinzentados. Sua mãe conta que os do seu pai também eram.

- Eram... – Vitor responde com um ar melancólico.
Depois de tudo calmo, Vitor devido à bebida dorme pesadamente e Helena deita-se pouco depois. De madrugada, o telefone toca e Elisa atende cheia de sono.
- Alô?
- É da casa do Vitor? – interroga uma voz embriagada.
- É.
- Ele está?
- Está dormindo.
- Chame.
- Eu não! Já é mais de uma hora da manhã!
- Pode chamar, é o Raul, amigo dele.
- Não vou chamar!
- Olha que a coisa vai ficar feia!
- É?! Pra você! O sogro dele é coronel e vai te pegar!
- O que?
- É isto mesmo! Não ouse ligar pra cá novamente se não quiser ser preso! Ele tem como descobrir seu telefone seu “cachaceiro!” – grita batendo o telefone. Helena acorda e pergunta à Elisa:
- Quem era?
- Ah, um desocupado querendo que eu chamasse o Vitor! Que audácia!
- Eu não agüento mais estes amigos do Vitor! Quando é que isto vai acabar?
Apesar do início de um desânimo em relação ao vício do marido, o amor de Helena por este, ainda era mais forte. Porém, mais barreiras viriam.