quinta-feira, 4 de junho de 2009

CAPÍTULO XIV A RENDIÇÃO DEFINITIVA

Na volta para casa, as crianças comentam com Helena os dias que passaram com o pai, numa intensa felicidade:
- Mãe foi bom demais! – vibrou Bertinha
- Eu fiquei tão orgulhosa do meu pai, mãe. – comenta Celinha com emoção.
- Por que, filha? - Helena fica curiosa.
- Mãe, o Allan disse que quando ele foi lá, não viu meu pai beber, né?
- Foi...
- Pois é, mãe, eu não o vi beber e tenho certeza de que ele não fez isto escondido. De outras vezes, eu notei que ele havia bebido escondido da gente, mas nestes dias que a gente esteve lá, ele não fez isto.
- Eu “assino embaixo” – reforçou Bertinha.
- Será que ele parou mesmo de beber? – perguntou Helena, como que ao mesmo tempo para si e para os filhos.
- Eu acredito que sim, mãe. – reiterou Bertinha.
- Ele está muito diferente. – afirmou Celinha.
- Ele tá até mais engraçado! - comentou Allan. – sabe, mãe, ele contou história pra mim, antes da gente dormir. Eu dormi naquela cama maior que tem no quarto que ele está usando e ele tava morrendo de sono. Aí, quando ele estava acabando de contar a história dos cabritos, eu quase não agüentei de tanto rir. Ele falou: “Aquela professora caduca!” Ele estava outra vez quase dormindo e eu perguntei: “E aí, pai, como é que acaba a história?” Ele respondeu: “Ah, a presidência...”.
- Ficou uma história maluca! – riu Helena, divertindo-se com o filho que também ria, com Celinha e Bertinha.
Helena surpreendeu-se com as notícias que tivera de Vitor, mas achava que podia ser um “rebate falso”. Devido às experiências anteriores, não deveria fraquejar. “Não, não vou me deixar levar pela emoção. Se ele resolveu parar de beber, já o fez tarde e tarde demais. Desejo que continue assim, mas é melhor que seja longe de mim e de mais a mais, se ele está tão bem, já deve até ter arranjado outra!”.– Dizia para si mesma. Apesar da satisfação em ter boas novas sobre Vitor, não queria se deixar levar pela emoção, chegando às suas próprias conclusões temendo se decepcionar.
Vitor procurava apesar da grande tristeza e saudade de Helena, ir em frente, se dedicar ao trabalho e sempre ter em mente evitar o primeiro gole de bebida.
Seguindo sua rotina, chega ao escritório e cumprimenta os amigos Olavo e Otávio:
- Oi, gente.
- Oi Vitor – respondem os dois.
- Vitor, nós ainda agora estávamos conversando e queremos contar a você uma idéia que tivemos. –introduz Otávio.
- É, Vitor. Nós estávamos comentando sobre o seu livro de poesias. – completa Olavo.
- Ah! Deixem isto pra lá, não teve grande repercussão mesmo.
- É Vitor, mas você escreveu e ainda escreve muito boas poesias. – prossegue Otávio - Então pensamos em fazer uma nova edição acrescentando mais poesias, com o apoio de uma rádio aqui perto que é AM, mas muito ouvida. Desta vez vai dar certo.
- Será? - Vitor parece duvidoso.
- Você não se lembrou da sua mãe? – frisa Olavo. – Ela não diz que: “A dúvida não procede de Deus?”
- É verdade – Vitor ri, concordando.
Com o relançamento do livro, uma nova fase se desenrola na vida de Vitor. Todos os companheiros do grupo dos Alcoólatras Anônimos comparecem e compram o livro.
- Parabéns, Vitor. – cumprimentam os gêmeos.
- Obrigado. Vocês é que estão de parabéns. Amigos como vocês, devem ensinar para os outros o que é ser realmente amigo.
- Ah! Vamos deixar de “rasgação de seda!” – brinca Otávio.
- É isso aí. – concorda Olavo.
- É sincero, gente. A noite está quase perfeita.
- Quase?! Por quê?! – os dois perguntam impressionados.
- Pra ser perfeita falta alguém. – confessou Vitor entristecido.
- Bem, os seus filhos vão vir, o Sérgio ficou de trazer.
- Estão demorando. Estou feliz que venham, mas vocês sabem de quem estou falando.
- Sabemos muito bem, por isto, a noite vai ficar perfeita agora. – Olavo chama quem Vitor esperava ver.
- Oi, Vitor.
- Lelê?
- Parabéns...
- Eu...Eu não pensei que você viria.
- Aqui estou eu. Queria fazer uma surprêsa.
- E as crianças? – ao perguntar, Vitor ouve três vozes gritando, correndo ao seu encontro:
- Pai!
- Meus filhos! – Vitor abraça os três. – este é o dia mais feliz da minha vida. – Pode ser mais ainda, se alguém quiser me perdoar. – olha melancólico para Helena, com um jeito de quem espera uma resposta positiva.
- Vitor, eu também tenho que pedir perdão. Naquela vez, parece que eu queria me vingar, te punir.
- Eu sei, Sabia que você estava com raiva. Quando eu voltei à razão, entendi isto. Eu conheço você, sei que quando tem um rompante, pode fazer coisas que ninguém espera, mas sei também que você suportou o que muita esposa não suporta.
- Helena, minha querida! – Marisa vê a nora e a abraça.
- Marisa, que prazer em vê-la.
- O prazer é meu, meu bem, você sabe. Pena que eu não vou poder demorar, porque estou muito feliz por um lado, mas muito triste por outro.
- O que houve?
- Sabe a Conceição?
- A mãe da Soraya?
- Você soube que ela está com câncer, não é?
- Ah, mas...aconteceu?
- Não querida, mas falta pouco. Eu preciso estar lá. Ela ainda tem consciência e tenho certeza de que o Senhor me dará esta oportunidade.
- Eu lamento muito, Marisa.
- Eu também. Gosto muito dela. Ela foi uma mãe espetacular. Tenho certeza de que a Soraya também será. Bem, vou ter que deixá-los. Parabéns, queridão! Você é meu orgulho! – cumprimenta o filho abraçando-o – Todos vocês têm grande potencial. Seus irmãos são dos negócios, você, das letras.
- Obrigado, mamãe.
Angelina que estava presente aproveita um momento em particular para perguntar:
- Então primo? Agora acredita no Deus que tudo pode fazer, mesmo quando as circunstâncias dizem que não?
A festa continua, Vitor tira retratos com os filhos e com a mãe antes desta se retirar e recebe homenagens dos amigos e parentes que puderam comparecer. Apressando-se em chegar ao hospital, Marisa encontra Soraya e Genaro na sala de espera.
- Então, queridos, como está ela?
- Acho que não vai passar desta noite. – lamenta-se Soraya.
- Querida Deus sabe de todas as coisas. Eu vou vê-la. – ao entrar no quarto de Conceição, Marisa a vê ainda com consciência.
- Conceição...Conceição...
- S-sim...
- Sou eu, Marisa.
- Marisa, que bom vê-la...
- Eu fui ao relançamento do livro do Vitor. Apressei-me em vir aqui, porque não queria deixar de ver você.
- Minha querida...Não precisava se incomodar comigo...
- Não é incômodo nenhum. Incomodada ficaria se não viesse vê-la.
- Você é tão boa, Marisa...Eu dei sorte de ter casado a minha filha com o seu filho.
- Sorte eu é que tive; ganhei uma filha.
- Que bom que seja assim, porque ela vai precisar muito de você... Eu não vou ficar muito tempo por perto...
- Conceição... Você crê que há um Deus que a ama, que deu O Filho d’Ele por você?
- Por que me pergunta isto?
- Por que eu quero que você saiba, que se você crer, Este Deus poderá recebê-la da maneira que for. Ele a quer, mas você tem que querê-lo também.
- Como assim?
- Conceição declare que só Jesus é seu único e suficiente salvador. Perdoe o pai da Soraya. Não sei se ainda é vivo, nem você sabe. Mas isto não importa. O que importa é que cada um deverá dar conta de si e agora você é que tem de se acertar com Deus.
- Eu sofri muito pra criar minha menina.
- Conceição, pelo bem que quero a vocês duas, eu peço encarecidamente: aceite Jesus.
- Como se faz isto?
- Repita comigo: - Conceição ouve e repete: - Senhor Jesus, eu Te aceito como meu único e suficiente salvador. Peço-te perdão pelos meus pecados, libero o perdão ao pai da minha filha e quero que tu escrevas o meu nome no “Livro da Vida”, para que contigo na glória, eu tenha a vida eterna obrigada Senhor porque contigo eu tenho a salvação. Libero toda e qualquer mágoa, todos os maus sentimentos que tive por toda a minha vida. Eu te agradeço, Senhor, em nome de Jesus, amém. Ao dizer a última palavra em poucos segundos, Conceição falece. Marisa chora ao mesmo tempo pela dor da perda e pela emoção de sentir cumprida sua obrigação cristã em resgatar uma vida para Jesus.
- Senhor, obrigada. Hoje está tendo a festa do livro do meu filho. No céu, está tendo outra festa, porque Conceição é mais uma filha Tua. Dá consolo à Soraya, Senhor.
No corredor do hospital, Marisa encontra-se com Genaro.
- Onde está a Soraya?
- O médico está com ela, não passou bem, ela entrou no quarto sem você perceber e viu a Conceição morrer.
- Senhor Genaro Castelli. – chama o médico.
- Sim.
- Venha comigo, por favor.
- O que houve?
- Sua esposa teve um grande choque, mas está tudo bem. Acho que apesar da tristeza, haverá uma compensação, pois vou pedir um exame e tenho certeza de que vou dar-lhe os parabéns.
- Como?!
- Tudo indica que o senhor será pai.
- Que maravilha! Vai ser um garotão!
Realmente, Soraya estava grávida e por um livramento de Deus, não perdera o bebê nem com o choque da perda da mãe.
Marisa, que já anunciara sua casa para venda, consegue uma ótima oferta de uma construtora e passa a morar em Petrópolis.
Vitor e Helena, reconciliam-se e para comemorar o fato, Heloísa dá uma ótima notícia:
- Gente! – tenho boas novas!
- Que foi, Lolô? – pergunta Helena.
- Lelê, você não se lembra que pouco antes de você e o Vitor se desentenderem, você expressou uma vontade de adotar uma criança? Você chegou a ir á instituição comigo, não está lembrada?
- Sei... Mas eu não falei mais nada, você disse que ia demorar. Agora eu vou ter que fazer tudo outra vez.
- Que nada, tenho uma criança pra você! Eu entreguei o caso àquela minha amiga Regina, não lembra?
- Mas Lolô, eu estive separada do Vitor durante uns quatro meses.
- Sim, mas o juiz não soube de nada. Eu tenho um presente pra vocês dois!
- Menino ou menina?
- Lelê é menino. Eu sei que você queria menina, mas é um menininho tão engraçadinho, um tipo cafuzo, uma mistura. Uma beleza de neguinho, você vai se encantar!
Assim aconteceu. Helena e Vitor encantaram-se com o menino de um ano e meio que deram o nome de Miguel, pois foi o anjo que Deus lhes dera de presente.
Pouco tempo depois, Genaro recebe uma confirmação sobre o bebê que Soraya esperava:
- Amor, eu estou com o resultado da ultra-sonografia.
- E aí, meu “meninão” está saudável?
- Não é “meninão”, é menina.
- É? – Genaro fica um pouco decepcionado.
- Pôxa, amor, que cara...Eu perdi minha mãe há poucos meses, estou mais sensível e você faz esta cara por saber que é menina?
- Ah...Desculpe amor...O próximo será menino.
- Eu estou pensando nesta que estou esperando. Eu sempre quis ter uma filha, mas se fosse menino, eu amaria do mesmo jeito! Você já está rejeitando a criança antes dela nascer! – Soraya chora decepcionada.
- Amor me perdoa, não falei por mal.
- Mas falou!
- Esquece, amor.
- Eu sei que você sempre quis um menino, mas não podia pelo menos se alegrar em ser pai, em saber que eu sempre coloquei em primeiro lugar a vida de esposa e mãe? Eu abri mão de qualquer coisa, eu me entreguei neste casamento, com um único objetivo: o de fazer você feliz. Nunca se esqueça disto! Você não sabe o que é uma mulher se sentir rejeitada assim, ainda mais depois de perder tão tristemente uma mãe maravilhosa, que foi um exemplo pra tantas outras que criaram e criam filhos sem pai. Tenho certeza que ela me apoiaria num momento deste e ficaria muito triste com você!
- Você tem razão, meu bem, me perdoe, eu... não devia ter sido assim com você, você não merece, eu te amo.
Em pouco tempo, mais uma boa notícia: Heloísa e Paulo também teriam um bebê; presente de Deus que logo Sérgio e Lúcia também ganhariam. Marisa ficava radiante, pois a nova geração aumentaria o clã dos Castelli.
Curiosamente, uma família que gerara tantos homens, traria uma nova particularidade na geração do fim dos anos 80: nasceria no dia 29 de janeiro de 1987, Suzana, uma linda menina, filha de Soraya e Genaro, morena de olhos negros da qual Vitor e Helena seriam os padrinhos. Soraya tivera dificuldades para o parto, pois a criança teve sofrimento fetal, devido o estado emocional da mãe, mas graças às orações de Marisa, de Tonha, Angelina, que aguardavam no hospital, Deus usou a equipe médica. Apesar de a menina ter nascido com problemas respiratórios e a mãe ter corrido risco de vida, tudo não passou de um grande susto e de mais uma prova do poder de Deus.
Heloísa, que estava no hospital esperando, grávida de 6 meses, observava um homem, que saía da sala onde ficava a incubadora, desesperado.

- Eu quero morrer! – enquanto médicos enfermeiros tentam contê-lo, Heloísa se compadece do homem e pergunta:
- O que houve com ele?
- Ele perdeu a filhinha que estava na incubadora, prematura de 6 meses. – respondeu um enfermeiro.
- Deixem-me falar com ele. – pede Heloísa aflita.
- Ele está desesperado, está precisando de um calmante. – argumentou um dos enfermeiros.
- Me deixem em paz! – gritava o homem revoltado e desesperado, chorando muito.
- Eu gostaria de ajudá-lo. – insistiu Heloísa.
- Ninguém pode me ajudar, eu gastei tudo o que tinha para salvar minha mulher e ela morreu. Agora, morre a minha filha!
- Você precisa de ajuda. – fala Heloísa gentilmente ao homem.
O homem acalma-se e Heloísa atentamente o ouve:
- Estou cheio de dívidas, até com casa hipotecada, desempregado. Fiz tudo pra salvar as duas e fiquei sem nenhuma! Eu estou arrasado! – chora desesperadamente.
- Eu estou vendo que você é um bom homem. Eu gostaria de ajudar. Qual é o seu nome?
- Alfredo.
- Alfredo, eu não estou precisando, mas o meu cunhado Genaro está procurando um motorista. Se você deixar um currículo, ele pode se interessar. Você precisa de trabalho, precisa dar um jeito na sua vida.
- Eu...Eu agradeço.
Assim, Alfredo seria o motorista de Genaro e Soraya, sendo muito eficiente e tomando um carinho especial por Suzana, cujas feições lembravam às de sua filha.
No dia 11 de abril do mesmo ano, Heloísa daria uma irmãzinha a Daniel, com uma penugem loura de olhos azuis que se definiriam mais tarde em verdes e que se chamaria Sandra.
Enquanto amamentava sua filha, Heloísa também foi uma “mãe de leite” para Suzana, pois Soraya ficara muito debilitada após o difícil parto e seu leite acabaria logo.
Finalmente Lúcia dá a luz à sua primeira filha, uma ruivinha de olhos acinzentados que se tornariam azuis e que se chamaria Sônia. Estava formado um trio “tricolor”, que viria a ser inseparável.
Numa bela manhã, ao visitar as meninas, Vitor estava contemplando as três meninas, embevecido. Uma babá o observando, comenta:
- Seu Vitor, eu fico admirada de ver como o senhor paparica estas meninas! O senhor tem 4 filhos, mas eu sinto que em relação a elas o senhor não faz diferença. Não é todo o tio que é assim.
- Eu amo estas três meninas. Elas também fazem parte de uma fase nova, de reconstrução na minha vida. Eu batizei a Suzana, mas não faço diferença. Elas pra mim são o mesmo que filhas.
- Assim como o senhor, elas serão um dia mais três filhas de Deus.
- Elas já são!
- Pela fé eu também creio nisto.
- Como assim?
- Seu Vitor, o senhor deve estar me achando uma intrometida. Mas eu tenho observado muito como o senhor é uma pessoa sensível e a ligação que o senhor tem com essas meninas é muito forte, muito espiritual. Eu sinto que o senhor está muito feliz quando está perto delas. Tanto quanto está com seus filhos, com sua mulher.
- É verdade.
- Pois o senhor muito em breve, vai conhecer uma felicidade que excede, que ultrapassa qualquer felicidade, porque vai ser a felicidade que Deus dá. O senhor vai entender e vai sentir a felicidade de saber que um Deus deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que n’Ele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna. Vai entender tão bem, que através da sua vida, muitas pessoas vão confirmar isto, inclusive estas meninas.
- Você é crente?
- Eu sou cristã. Crente, qualquer um é. Eu creio que Jesus deu a vida por todos nós, venceu a morte e está vivo e eternamente vitorioso ao lado do Pai. Aliás, o seu nome quer dizer vencedor, sabia?
- É...Você ia gostar de conversar com minha mãe.
- Eu já tive este prazer. Ela é uma grande mulher de Deus, assim como o senhor será um grande homem de Deus também.
Apesar das palavras da moça terem impactado Vitor, inicialmente não as levaria muito a sério.
Com o passar do tempo, porém, começa a questionar-se se estaria sendo preconceituoso, pois para ele, igreja evangélica era coisa de “Zé povinho”. Tantas vezes dissera: “Eu, ser crente?! Nunca!”
Algo mais forte do que ele lhe dizia: “Porque você não tenta descobrir se estas igrejas são realmente o que pensa?” Procura então sua prima Angelina em Petrópolis.
- Primo! Que surpresa! Quem é vivo sempre aparece! – exclamou Angelina.
- Prima, eu senti muita saudade de você. Queria conversar. Você agora deve estar se sentindo só. Seus filhos fazendo curso no exterior.
- Primo, eu nunca estou só. O Senhor está comigo! Além do mais, eu não criei meus filhos para mim. Eles têm a vida deles e são do Senhor, também.
- Prima, como é que é isto? Vocês falam tanto de Deus. Como é que é Este Deus?
- Maravilhoso. Curou sua mãe de uma enfermidade, curou a mim também e pode crer, primo, curou você da bebida e trouxe Helena de volta pra você.
- Alcoolismo é uma doença, prima. Não tem cura, tem controle. A Lelê queria voltar, só não assumia isto.
- Eu acredito que tudo isto foi possível, porque Deus é amor, cura e perdão. Ele tudo pode. Pode transformar curar... pode curar até aids!
- Ah prima, não me venha com esta!
- Vitor, você tem o direito de crer no que quiser, mas eu afirmo: o meu Deus, tudo pode, basta crer.
- Eu creio em Deus. “O poder superior”.
- Tá, Vitor. Mas este poder é muito, muito mais superior do que você possa imaginar. Procure descobrir. Você sempre foi bem curioso, sempre foi questionador. Está na hora de encontrar respostas sobre Este Deus. Não quer ir à minha igreja?
- Bem... – Vitor mostra-se reticente, indeciso.
- Sem compromisso, primo. Eu fui à igreja de sua mãe, aceitei Jesus lá, mas fui para outra denominação. Você pode ir à minha como pode ir a outras, dando-se o direito de conhecer, tirar suas próprias conclusões.
- Ah...não sei, tem umas coisas que eu não gosto. – justifica Vitor.
- Eu sei que tem igrejas que pregam sobre hábitos de roupa. Na igreja da sua mãe, há muitos que se vestem mais circunspetos pela idade. Mas lá não há tantas restrições, como na minha. As pessoas devem sim é se vestir adequadamente, com respeito. Mas a roupa não é um sinônimo de santidade.
- Tá prima, eu vou pensar, depois falo com você.
Angelina ora pedindo uma estratégia a Deus. Sentia que Vitor gostaria de sua igreja, que Deus poderia usá-lo, mesmo que parecesse difícil pelas suas convicções, já que Vitor sempre acreditara que todos os caminhos levassem a Deus.
Um dia, surge uma oportunidade: haveria um batismo nas águas num sítio. Além dos membros da igreja, outros estariam convidados, pois haveria um almoço de confraternização. Angelina convida Vitor e toda a família para comparecerem.
A princípio, mesmo tendo aceitado o convite e conhecendo pessoas agradáveis, o casal estranhou um pouco os hábitos, o povo, orando, falando alto várias vezes: “Glória a Deus!” Helena num dado momento isolou-se, entrando no pequeno chalé, acomodando-se na sala. Elisa, que estava presente, perguntou-lhe:
- Que foi, Lelê, não está gostando?
- É...o pessoal é simpático...
- Mas você parece que está chateada.
- Não é isto, Elisa. Eu não estou acostumada. É uma gente diferente, cantando sempre músicas evangélicas, dando: “Glória a Deus” o tempo todo.
- Olha, Lelê, tem até gente que estranha, porque em outros lugares é diferente. Eu por exemplo não sou desta igreja, mas sei que as pessoas daqui, assim como eu também gostam das músicas seculares. A diferença, é que a gente fica mais seletiva, não ouve qualquer música e gosta até mais dos louvores.
- Bem... “cada um com seu cada um”.
- Olha, Lelê, o Vitor parece que está se enturmando, você não fica feliz com isto?
- Fico. Ele está até melhor do que eu.
- Lelê. Você deve estar achando um saco, mas eu vou dizer: um dia você sem perceber será uma grande serva de Deus.
- Quê?! – espanta-se Helena.
- Isto mesmo. Você vai até dizer: ”Eu não quero não, Senhor. Mas Ele vai te levar pra falar d’Ele, pra ganhar pessoas pra Ele, pra obra d’Ele.
- Eu?!
- É. Você. Sei que está achando um papo de maluco, mas vai.
- Ah, Elisa... Eu não nasci pra isto!
- A gente não nasce nunca sabendo nada, mas Deus nos capacita.
- Esta agora.
- Lelê, você me contou que uma vez a sua prima Sâmara a levou até uma “dona” que você achou estranha. Lembra?
- Sei...e daí?
- Você disse que a achou perturbada quando viu você naquele dia.
- Eu lembro disto, mas ainda não entendi aonde você quer chegar.
- Eu quero chegar a um lugar muito simples: ao lugar que você tem no infinito coração de Deus. Você sempre foi d’Ele. Por isto que aquela senhora incomodou-se tanto querida, porque “luz e trevas não se combinam”. Você não a achou estranha?
- Muito!
- Então. Isto, porque ela é uma pessoa em comunhão com as trevas. Naquela noite, dona Marisa contou que estava intercedendo muito por você. Aquela manifestação naquela dona foi de incômodo ao ver tanta luz em você.
- Será? – Helena, ainda muito incrédula fica em profunda dúvida.

- Eu sei o que estou dizendo, minha querida. O Senhor já escolheu você no ventre da sua mãe. É só ler Isaías 49.
Helena questiona-se ainda, mas começa a refletir.
Vitor continua a assistir cultos na igreja. Visita outras vezes, levando Helena que como ele ia como mera freqüentadora.
Uma noite, ao ouvir pregações cheias de poder, do Espírito Santo, começa a ouvir o povo falando desordenadamente palavras que parecem sem sentido. De repente, sem entender o por quê, ele mesmo começa a falar desenfreadamente coisas que não entende. O pastor vibra:
- Glória a Deus! Está havendo ó batismo do Espírito Santo! – exclama o pastor.
Naquela mesma noite, Vitor aceita Jesus como seu único e suficiente salvador.
Helena fica cada vez mais surpresa com o procedimento de Vitor, que se dedicava a aprender a palavra, a assistir os cultos, indo com ele, sem, porém tomar a mesma decisão.
Sentada no banco, ouve de uma senhora uma revelação:
- Eu vejo você balançando um berço.
- Impossível! – Helena ri.
- Para o nosso Deus, nada é impossível, pois Ele é o Deus do total impossível. Faz do impossível, possível. Você está rindo, mas Sara também riu quando Deus disse que daria a luz e nasceu Isaac, o filho da promessa.
- Mas eu extirpei a trompa!
- Minha senhora, mesmo assim, eu afirmo que a senhora vai ver o que Este Deus pode fazer. Creia. É só o que digo. Não pense que seja por que eu disse, mas por que Deus disse.
- Ah sei... A senhora tem “linha direta” com Deus?
- E por que não? É só crer, que se faz a “linha direta”.
Helena não acreditava. Para ela tal afirmação era absurda demais.
Pouco tempo depois, Helena numa tarde de sábado estava tomando banho. Curiosamente, percebe um detalhe que lhe causa impacto. Chama Vitor, saindo do banho:
- Vitor!
- Oi Lelê!
- Que impressionante, eu estava tomando banho e aconteceu.
- Aconteceu o que?
- Eu senti sair leite do meu seio. O mesmo que senti quando descobri que estava grávida da Celinha.
- Lelê... será?
- Mas...não pode ser.
- Lelê, o nosso Deus, pode tudo.
E assim se fez. Helena logo fazia um exame e estava grávida e logo aceitava também Jesus como seu único e suficiente salvador. No dia 8 de agosto de 1988, nascia Patrícia, - Patty, na intimidade -que viria a ser loura com os olhos castanhos esverdeados. Um milagre na vida do casal. A menina representa para o casal uma confirmação de bênçãos, uma fase de amor cada vez mais transbordante na presença do Senhor. Helena regozijava-se com a filha, muito agarrada à ela.
Ao apresentarem a filha caçula na igreja, no mesmo dia o casal renova os seus votos e é batizado nas águas com a filha mais velha.
Pouco depois, no ano seguinte, o casal Sérgio e Lúcia tem mais um filho, também um pouco sardentinho como a irmã, com os cabelos acobreados e olhos castanhos que se chamaria Ivan. Ainda no mesmo ano, Hélida, já no seu segundo casamento, tem mais um filho: Diego.
Soraya espera mais um filho. Pela ultra-sonografia seria mais uma menina. Porém, aos quatro meses de gravidez, tem uma forte hemorragia e sofre um aborto. Apesar da tristeza, agradece a Deus por estar viva e poder criar sua filha Suzana, que já estava com 3 anos.
Os filhos de Vitor e Helena, vão crescendo na igreja e descobrindo aptidões para ministérios: Bertinha lidera um curso de teatro e ajudada pelo pai encena peças bíblicas; Celinha, que aos 12 anos também é batizada, cria um grupo de coreografia; Allan participa das atividades “teens” da igreja, tocando teclado e bateria enquanto Miguel, muito aplicado na escolinha bíblica, aprende surpreendentemente histórias que dramatiza no grupinho de teatro infantil; Bertinha comemora o seu “debut”, com grande festa na igreja.
Com 16 anos de idade, Bertinha conhece na igreja aquele que seria o varão escolhido por Deus para ela: Reynaldo, que se identificaria muito com Vitor, pois no passado também fora alcoólatra. Os dois namoram, ficam noivos e quando Bertinha ainda contava 17 anos passava a chamar-se Roberta Castelli Pessoa.
Ao dar um dia na igreja seu testemunho, a jovem diz:
- Deus deu-me o homem que hoje é meu marido já moldado. Preparou-o para que viesse abençoar minha vida.
Vitor envolve-se com ministérios na igreja, juntamente com Helena, voltando-se para a recuperação de alcoólatras e drogados. Lidera reuniões semelhantes aos Alcoólatras Anônimos, tendo, porém uma grande diferença: o programa de recuperação é a palavra de Deus, pois a fé, a libertação vem pelo ouvir e ouvir a palavra de Deus. Através deste trabalho, Vitor ajuda muitas pessoas, que até no início nem criam em Deus a entender que sem Ele, nada é possível.

Sua carreira de escritor vai se firmando, Olavo e Otávio vão à igreja e também aceitam Jesus. Lá conhecem aquelas que seriam suas esposas e também formariam uma família além de integrar a família do Senhor.
A editora passa a ser evangélica, rebatizada como FONTE.
Vitor passa a liderar uma creche-escola com Helena, que denomina CASA DA CRIANÇA FELIZ.
A festa de 15 anos de Celinha é inesquecível. Ao dançar a valsa, sabe que todos os pares são futuros pretendentes, mas casamento ainda não é sua primeira preocupação.
Um dia, Celinha está passando roupa, enquanto Elisa está lá conversando com ela e o pai chega com pressa.
- Celinha!
- Oi pai.
- Minha filha, eu estou agora sempre correndo. Cadê sua mãe?
- Saiu.
- Diga pra ela que vou demorar um pouco mais hoje na editora. Tenho que aproveitar o tempo que já é pouco. Estou ainda no segundo capítulo do livro.
- Que legal pai.
- Você está nele, Elisa.
- É mesmo, Vitor? – Elisa entusiasma-se - Que maravilha! Qual vai ser o nome?
- A LUZ DO TRIUNFO.
- É? – admira Elisa.
- Vitor quer dizer vencedor e Helena sol que brilha.
- Lindo pai. – vibrou Celinha.
- É isto aí. – comemora Vitor - “O amor é paciente, é benigno; o amor não se arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. (1 Coríntios, 13: 4 -7)
Uma bela história de amor tem que ter um final feliz. Porém, a vida tem alegrias e tristezas, lutas e com persistência, vitórias. Assim foi é e será com a luz de Deus na vida de Helena, que brilha sobre a vida vitoriosa de Vitor. Por isto, esta história não se encerra aqui. A saga da família Castelli continua em: UMA NOVA GERAÇÃO EM CRISTO.