sexta-feira, 21 de novembro de 2008

CAPÍTULO VII
A NOVA HERDEIRA
Aos 23 anos, tendo uma filha com quase um ano, Vitor presta o vestibular para Letras.
A vida vai seguindo um curso normal, com os problemas naturais do dia a dia. Apesar de não gostar de trabalhar em construção civil, Vitor aceitava o ofício como patrocinador de seus projetos futuros. Além disto, os bens deixados pelo pai e a ajuda de Marisa e do casal Carajás, provinham às necessidades emergenciais.
O apoio moral, também viria da parte de Elisa, que muito auxiliava nos afazeres domésticos e cuidados à Bertinha, dividindo suas atenções aos patrões e a Vitor e Helena.
Os irmãos de Vitor igualmente davam prosseguimento aos seus ideais: Paulo cursava Direito depois de já ter feito outros cursos técnicos inclusive na Itália e nos E.U. A e continuava insistente seu assédio à Heloísa que à esta altura já cursava Assistência Social e vencida pelo cansaço cede aos encantos do rapaz, aceitando namorá-lo e após dois anos de noivado estaria prestes a desposá-lo; Genaro, aproveitava a vida de solteiro e tinha um cargo administrativo na firma matriz deixada pelo pai, colaborando muito para o crescimento da empresa o que o fazia ascender profissionalmente e ser admirado pelos sócios.
Vitor continuava com o vício que cada vez mais se intensificava, o que já provocava chacotas por parte de algumas pessoas da firma ou parentes, pois tudo para ele era motivo de comemoração com bebida, além dos porres costumeiros de Natais, Reveillon e aniversários. Quando alguém argumentasse sobre o vício, nunca aceitava as colocações, principalmente se viesse de algum parente mais chegado ou irmão.
Marisa até sentia-se um pouco fraca na fé, embora não desistisse de orar.
Todos os filhos já eram adultos com visões diferentes de vida, completamente independentes da mãe.
Sérgio algumas vezes aceitava convites para ir à igreja, mas sempre avisava: “Mamãe, não vou ser crente, não vou dar dinheiro pra pastor!”
Embora a vida com Vitor não fosse exatamente o que Helena sonhara, havia amor e apesar das noitadas de bebedeiras com amigos, Vitor tinha uma qualidade: era absolutamente fiel. Mesmo com o vício, não deixava também de ser um bom pai, vendo sua Bertinha chegar aos dois anos de idade cada vez mais linda, com seus olhos azuis e cabelos louros cacheados, parecendo um anjo, mesmo sendo muito levada.
As discussões pelas bebedeiras muitas vezes terminavam em reconciliações de madrugadas de amor. O resultado de uma delas logo viria, quando um dia saindo do banho Helena chamava Elisa e Hélida, que estavam em sua casa:
- Lili! Elisa! Eu descobri! Estou grávida!
- Quê?! – exclamou Hélida.
- E agora? – perguntou preocupada Elisa.
- Gente estou comunicando que alguém vai nascer, não disse que morreu ninguém.
- Bem... É...claro! – consertou Elisa.
- Você foi ao médico? – indagou Hélida.
- Quando eu for ele vai simplesmente confirmar, porque saiu leite do meu seio quando eu estava tomando banho.
- Você não tomou nenhum cuidado? – perguntou Hélida lamentando.
- Por que tomar cuidado? Eu gosto de ser mãe. Eu não programei, mas virá e será bem vindo!
- Mas minha irmã é mais uma boca pra comer!
- E daí?
- Como “e daí?” Vocês “nadam em dinheiro?”
- Não, mas o que temos dá e o Vitor ganha razoavelmente bem.
- Ah, Lelê, eu sou muito prática, por isto eu tão cedo nem penso em me casar e muito menos ter filhos. – coloca-se Hélida – quero aproveitar a vida e depois de uns cinco anos de casada, talvez eu seja mãe.
- Cada um pensa como quer. – opina Elisa.
- Por isto que eu penso em mim primeiro – prossegue Hélida. Você, Lelê, exagera na dedicação à Bertinha, quase não sai. Já vai ter outro, vai ficar mais presa ainda. Um dia eles crescem e dão “uma banana” pra você!
- Na minha consciência fica uma certeza: fui boa mãe.
- Ah! “Vai atrás!” – ironiza Hélida.
Assim no dia 07/07/1977, nasceria Marcela. A menina custara um pouco a nascer, pois estava enrolada no cordão umbilical.
Apesar de estar esperando por um menino, Vitor ficou encantado com a bela menina, que puxara mais a avó materna, tendo como esta os olhos amendoados e escuros e os cabelos também escuros.
Bertinha sentia muitos ciúmes. Certa vez fez uma demonstração deste sentimento quando, por descuido de Vitor enquanto Helena se arrumava para receber a sogra, a primogênita então com seus três anos e oito mêses, pulou dentro do cercado da irmã. Elisa socorreu a neném e a retirou do cercado.
- O que foi? – perguntou Helena ouvindo o choro da filha.
- Está tudo sob controle – tranqüilizou Elisa.
- Mas o que foi? – insistiu Helena.
- A Bertinha entrou no cercado.
- Ai, meu Deus! Vitor!
- Que é?
- Você saiu de perto e olhe o que aconteceu!
- Mas...
- Mas, o que? Eu não fiz sozinha, ouviu?
- Calma, Lelê!
- Calma... – ironiza Helena.
A campainha toca e Helena novamente se dirige a Vitor com ironia:
- “Salvo pelo gongo!” – Marisa chega e após os cumprimentos iniciais percebe que há algum problema e pergunta:
- Está tudo bem, queridos?
- Tudo bem... – respondem os dois quase ao mesmo tempo, expressando um desânimo. A visita transcorre bem e num determinado momento, Vitor pega um conhaque.
- Vitor, “manera, tá?” – adverte Helena.
- É só um “trago”.
- Mas não custa alertar. - Retruca Helena.
- Não se preocupe, não vou ficar de porre. – responde ironicamente Vitor.
Mesmo percebendo a tensão da nora, Marisa deixa para os momentos finais de sua visita uma conversa sobre Vitor, quando o próprio não está perto.
- Norinha, antes de ir quero dizer que tenho você como uma filha. Fico feliz, porque já vou ganhar outra.
- É, o Paulo custou, mas conseguiu. O Vitor teve tudo mais fácil e parece que não deu o devido valor.
- Eu não digo como mãe, mas como quem o conhece bem: não foi tão fácil assim, ele foi e voltou da Itália só pensando em você.
- É...Isto é verdade.
- Não desanime, querida. Eu sei como deve estar se sentindo. Também não gostava quando o Vitório bebia, apesar de fazê-lo muito menos que o Vitor. Eu estou orando. Deus diz: “Aquietai-vos e sabei que Eu Sou Deus”. (Salmos, 46; 10-a). É difícil pra mim também, mas o Deus que eu sirvo vai responder às minhas orações, no tempo d´Ele.
- É...Que Deus te ouça.
- Está ouvindo.
Marisa continuava confiante e Helena, começava a se desencantar.
Ao fim daquele ano Heloísa e Paulo casavam-se. Helena assistia ao casamento da irmã com emoção e tristeza ao mesmo tempo. Emoção, por lembrar-se do seu, que parecia um conto de fadas; tristeza, por comparar os tempos idos com os atuais, nos quais não sabia o que fazer em relação ao marido.
Como não poderia deixar de fugir à regra, Vitor, comemora com champanhe e outras bebidas mais. Ao final da festa, Vitor estava tão embriagado que nem poderia dirigir.
Contrariado mas controlando-se, o Coronel Carajás leva as netas para casa enquanto Genaro ajudava Helena a levar o marido.
- Quando isto vai acabar...? – lamenta-se Helena.
- Calma cunhada, deixa comigo. – consola Genaro.
Vitor chega em casa amparado por Helena e pelo irmão que o faz tomar um café forte e amargo, depois de jogá-lo na água fria.
No dia seguinte, um domingo, Vitor acorda tarde e vê só Elisa no apartamento.
- Cadê a Lelê?
- Ela foi à praia, Vitor. Não chamou você porque já sabia que ia acordar com a cabeça “estourando”. Vitor, não me leve a mal, vou falar porque quero o seu bem e da Lelê; manera, cara. Você não consegue participar de nenhuma festa sem bebida. Já está demais, a Lelê está ficando cheia. Você vê só; ela foi à praia e nem avisou a você, deixou recado comigo. Antes ela fazia isto? Presta atenção no que você está fazendo, depois não vá chorar dizendo que não foi avisado. Não há amor que possa resistir a isto. Por que você não vai aos ALCOÓLATRAS ANÔNIMOS?
- Ah “dá um tempo”, Elisa! Eu bebo socialmente, com os amigos, não sou alcoólatra!
- Tá bom... – Elisa olha com um olhar atravessado como quem pensa: “É o que todos os que não querem aceitar dizem”. Percebendo que não adiantaria argumentar, encerra o assunto. Um pouco mais tarde, chega Helena com as crianças.
- Oi, Lelê.
- Oi. – Vitor faz menção em abraçá-la, mas ela se esquiva, saindo rapidamente.
- O que há, amor?
- Vitor, você ainda pergunta? Você dá cada vez mais vexame em tudo o que é festa, as pessoas chamam você de chato. Você acha que a Bertinha, só porque ainda tem 3 para 4 anos, não percebe o papel que o pai faz e as chacotas em relação a ele? Vitor, eu não estou pra isto, estou ficando cheia! Porque você tem que se destruir com bebida? Parece que não está satisfeito comigo, com as crianças.
- Eu estou Lelê. Só bebo socialmente.
- Então você é muito “sociável”, porque praticamente a semana inteira você bebe com os amigos!
- Mas é só chope.
- É. Só chope! Nas festas é champanhe e outras “biritas” mais! “O que vier eu traço!”
- Vem cá, Lelê! – Vitor desconversa tentando abraçá-la.
- Não! Nem vem que não tem! Agora também eu entro em “greve!”
- Não exagera, amor.
- Quem está exagerando há muito tempo é você! Não aceito mais isto! Não vou mais a festas com você de porre e se houver alguma na qual eu não possa deixar de ir, se ver você bebendo, deixo você “plantado” e vou embora! - As ameaças não eram cumpridas e Vitor, conseguia manipular a situação. Um dia, “o pote cheio” começaria a transbordar.

2 comentários:

Unknown disse...

Oi Tio,
Deu uma lida nas últimas postagens, estão ótimas, gostei muito...
Bom passei aqui so pra mandar um bjo.
té mais...Bjos, luli

denise beliato disse...

Só comparando as semelhaça: Assim como Vitor tenho 23 anos e vou prestar vestibular de letras.

A história tá boa.