segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

CAPÍTULO IX O PODER DE DEUS

Elisa estaria sempre presente, ajudando Helena nos cuidados com o recém-nascido e também a ouvindo e dando bons conselhos.
- Elisa, como o meu filho é lindo. Marisa diz que ele lembra o avô, mas os olhos são iguais aos dela.
- É. Ela comentou comigo também.
- Você tem ido à igreja com ela, né?
- Sim, mas ainda não tomei a decisão de aceitar Jesus.
- Eu não entendo bem isto. Não acho que precise ser de uma igreja evangélica para “aceitar Jesus”. Eu aceito que Jesus existiu.
- Existe, né, Lelê.
- Ah, ou isto. – de repente, toca o telefone e Helena atende.
- Alô? Como? De repente? Tá, eu aviso o Vitor. Se a Elisa puder ficar com as crianças eu vou lá.
- O que foi Lelê?
- O Ernesto, marido da Angelina teve um enfarte e está em estado grave.
- Meu Deus...Ele tem dois filhos pequenos ainda.
- Você pode ficar com as crianças?
- Posso, se você quiser ir ao hospital, vá.
Chegando ao hospital, Helena encontra Marisa que lhe informa que o estado de Ernesto continuava grave. Não parecia haver esperança. Tudo era possível; que ele ficasse horas, dias, ou até semanas em coma. Marisa preocupa-se com a salvação daquela alma e entra no CTI. Chegando perto de Ernesto, fala:
- Eu sei que você está me ouvindo. Dê-me um sinal, pisque. – Ernesto aperta os olhos cerrados.
- Se você crê que o Senhor Jesus deu a vida por você, repita o sinal. - Ernesto repete o sinal.
- Eu vou dizer umas palavras e você em pensamento vai repeti-las comigo: Senhor, eu creio que tu deste o teu filho amado Jesus por mim e quero te pedir perdão pelos meus pecados e que tu escrevas meu nome no Livro da Vida. Eu te agradeço Senhor pela minha salvação em nome de Jesus, amém. Amém? – Ernesto aperta os olhos novamente.- O céu está em festa, porque você aceitou Jesus como seu único salvador. – pouco depois Ernesto falecia.
Angelina ficara inconformada com a viuvez tão cedo, com um casal de filhos pequenos. Para agravar ainda mais a sua difícil situação, logo apresentou sinais de uma doença nos rins e precisou fazer regularmente hemodiálise.
Cansada e sentindo-se acompanhada pela má sorte, queixava-se com Marisa:
- Tia, eu não aceito isto, eu não entendo. Como é que pode minha vida ter virado de cabeça para baixo de repente!
- Minha querida, todos nós passamos por aflições nesta vida. Eu também perdi meu marido cedo, com quatro filhos.
- E eu? Minha filha com 13 e meu filho com 11?
- Eu sei que é duro, mas o Ernesto está com Jesus.
- Grande consolo! Eu o queria comigo!
- Não podemos colocar a vontade de Deus acima da nossa.
- A vontade d’Ele é que eu viva deste jeito? Viúva e ainda por cima doente?
- Angelina, você aceita um convite meu para ir à igreja?
- Aceitar, eu aceito, mas já vou avisando que não vou virar crente!
- Angelina, você não tem que “virar” nada. É só um convite.
- Tá, não tenho mais nada a perder mesmo. – Angelina sentia-se completamente desiludida da vida e pensava que se um deus existisse este teria se esquecido dela. Mas ainda descobriria o verdadeiro Deus. A primeira vez que foi à igreja a convite de Marisa, uma senhora revela-lhe:
- Há “coisa feita” para você, pois é muito invejada, mas eu creio pela fé que está tudo desfeito em nome de Jesus. – apesar de não entender muito, Angelina continua a ir à igreja até que um dia toma uma decisão ao ouvir as palavras do pastor:
- Se há alguém aqui que ainda não tenha entregado sua vida a Deus e deseje fazê-lo, venha a frente. – Naquele momento, Angelina como que sentindo um impulso da mão de Deus, como se o sentisse de braços abertos para recebê-la, levantou-se e foi a frente. Cheias de lágrimas de vitória, Marisa e Tonha glorificavam a este Deus maravilhoso. A alegria seria dupla, pois ao ver a decisão de Angelina, Elisa que até então era mera freqüentadora da igreja, resolve também entregar sua vida a Deus.
- Glória a ti Senhor! – exulta Marisa.
Pouco depois, mais uma benção: Angelina, que marcara operação para transplante de rim, faz novos exames para saber se estava preparada para a intervenção e se descobre curada.
Com o casal Heloísa e Paulo, tudo corria bem, pois já com a vida estruturada e com 4 anos de casados, esperavam a vinda do primeiro filho.
Helena e Vitor enfrentariam uma nova luta: embora Allan apresentasse um crescimento saudável apesar de ser prematuro, uma gripe forte preocuparia Helena e esta aconselhada pelo pai levaria o menino ao médico, que após examiná-lo, perguntou:
- A senhora sabe que seu filho tem um sopro no coração, não?

- O que?! Não!
- Calma dona Helena, isto é operável.
- Meu Deus, meu filho é prematuro!
- Dona Helena desculpe se eu a assustei, pensei que soubesse.
- Doutor, o que eu faço?
- Não se desespere, não haverá risco. Eu posso indicar um cardiologista de minha total confiança que já fez operações de grande êxito.
Helena sentiu o chão lhe faltar, como se estivesse caindo num abismo. O casamento em crise, Vitor insatisfeito, ela cansada de ouvir suas lamentações e agora mais uma preocupação, num momento em que crises conjugais e financeiras se entrelaçavam. Como sempre os dedicados pais ajudariam Helena naquele momento difícil. Edite também prestaria apoio financeiro juntamente com Marisa. E Deus, cujos olhos assistem a tudo, mandaria um servo seu para operar o menino.
A operação correria bem e a criança teria uma boa recuperação.
Vitor continuava trabalhando na creche e Helena após a recuperação do filho, aproveitaria uma vaga no CAMEC para trabalhar como recreadora. As lutas aumentavam e o vício de Vitor também. Marisa preocupava-se e desabafava com Tonha:
- Tonha, eu vejo meu filho afundando e não sei o que fazer.
- Você já faz tudo o que pode, fora isto, só nos resta orar.
- Parece tudo tão difícil.
- Marisa é natural que a gente às vezes desanime, que sinta que está demorando, mas Deus ouve suas orações e as minhas também. O Vitor vai parar de beber.
- Ele está sofrendo.
- Mas Deus não deixará acontecer mais do que ele possa suportar e tem operado na vida dele. Aquela Isaura é uma “mandingueira”; ela conseguiu alguma coisa com o Vitor?
- Pois é Tonha, eu oro por ela sempre, ela tem um espírito de lascívia, vive assediando maridos das outras.
- É só gosta de destruir casamentos, é uma infeliz, precisa de orações mesmo.
- O Genaro até praguejou pra ela.
- Ele é muito rancoroso, mas ela é presa fácil pro diabo.
- O Marco Antonio meteu medo nela.
- É, mas ele não tem ajudado mais o Vitor, aquela irmã dele, a Neusa, está o influenciando contra ele. Eu, aliás, confesso: não gosto dela, pois já a ouvi falar mal do Vitor e quem falar mal do meu “filho branco”, eu não considero como amigo. Não desejo mal a ela, pois sou cristã, não vou gostar de todas as pessoas, mas tenho que amá-las, como disse sabiamente o nosso pastor outro dia.
- O que ela falou do Vitor?
- Um dia ela veio aqui e o Marco Antonio também estava, ela disse que Vitor era fracassado, bobo, comparou-o aos irmãos. Eles podem estar melhores que ele, ter uma visão mais prática da vida, saber fazer negócios, mas isto não dá a ninguém o direito de se desfazer dele. Acho-a uma falsa. Ela finge que gosta das pessoas, mas só fala mal por trás.
- Olha Tonha, eu sempre reparei que ela faz o gênero “dona da verdade”, mas realmente não pensei que chegasse a tanto. Se não fosse você a me contar, eu não acreditaria.
- Pior é que muitas vezes, na família da gente é que estão os piores inimigos.
- Mas Deus pode transformar as pessoas. – argumentou Marisa.
- Eu que o diga; você vê a minha filha; ela é um exemplo disto. Como deu “cabeçadas” aquela menina! Fez um filho com um homem, uma filha com outro. No dia que eu menos esperava, estava lá ela na igreja, aceitando Jesus. A luta é grande, mas com muitas vitórias. Nossas orações são sempre ouvidas. O Allan já está aí recuperado, cheio de saúde.
- Graças a Deus. – Marisa suspira aliviada – Tonha, às vezes me sinto até errada, como que fora da vontade de Deus.
- Por quê?
- Deus diz: “Por isso deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher tornando-se os dois uma só carne” (Gênesis 2; 24).
- Mas Deus sabe de todas as coisas e conhece as suas razões para agir assim. Você não se mete na vida do seu filho. Felizmente tem uma mãe que o ajuda.
- O que o General não deve pensar.
- Marisa, ele está ajudando a filha dele também.
- Mas ele era contra o casamento.
- O que não teria impedido nada, poderia ter sido até pior se eles quisessem proibir os dois de se casarem. – observou Tonha.
- Quem parece que não demora muito a se “amarrar”, é o Genaro.
- Por quê?
- Ele ainda não comentou com você? – admirou-se Tonha
- Não? O que? – Marisa fica curiosíssima e intrigada por Tonha já saber segredos sentimentais do filho.
- Ele está simplesmente “vidrado” numa moça que é modelo e aparece em todas as revistas. Foi ver um

desfile dela e até mandou flores.
- Mas ora vejam! Não comentou nada comigo! Como é que você soube?
- Num dia que todos estavam aqui, num domingo, não me lembro se no retrasado ou no anterior, o Paulo e o Vitor estavam “encarnando nele”. A moça é relativamente conhecida no mundo da moda, o nome dela é Soraya Ribeiro, tem o cognome de “A CABOCLA DAS PASSARELAS” é de uma origem pobre, mas parece ser boa moça.
- A origem não quer dizer nada, Tonha. A sua origem é pobre e você é excelente pessoa.
- Eu sei. Eu acho que a moça tem a cabeça no lugar, eu li numa reportagem que ela sempre leva a mãe para todo os compromissos de trabalho. Ela parece ser boa filha, parece que foi criada sem pai.
- Você sabe mais que eu que sou mãe.
- Eles não me contaram, eu só ouvi e li.
- Quem sabe se eu não vou ganhar mais uma nora?
- Bem, ele tem ido a todos os desfiles que ela participa.
Marisa e Tonha acertavam na previsão, pois Genaro sentia-se cada vez mais atraído pela jovem e pedia a ajuda do irmão Vitor, que sendo romântico e solícito em assuntos de amor, sugere:
- Você já falou com a moça?
- Mandei flores, tentei falar, mas é difícil.
- Não sabe de ninguém que possa aproximá-la de você?
- É tudo tão fechado neste meio.
- Genaro, as empresas de propaganda que você tem contato, devem ter algum vínculo com este pessoal.
- “Peraí...” Você se lembra daquela moça que foi sua colega de faculdade e depois seguiu carreira de modelo, a Eliana Hoffer?
- Sei... Que eu chamava de brincadeira de “Marlene Dietrich” e ela dizia: “vulgo Eliana”. Que tem ela?
- Ela é que agora treina as modelos mais novas, eu a vi por lá num desfile.
- Então vai ser “mole!” Eu vou lá com você e peço pra ela dar uma força.
A chance viria num desfile beneficente em prol de um orfanato. Heloísa que recentemente dera a luz ao seu primeiro filho Daniel iria ao evento, já que suas colegas de assistência social faziam parte. A sorte estava lançada, pois a mãe de Soraya, dona Conceição era extremamente exigente e percebendo o interesse do rapaz pela filha, teria boa impressão de seus familiares, apesar de querer se certificar de suas verdadeiras intenções.
Genaro convida as duas para jantar fora, e embora não aceitem na primeira ocasião, o jovem torna-se insistente e aos poucos Soraya vai cedendo, mas sempre em companhia da mãe, que a alertava: “Cuidado, não se deixe levar pela lábia de um homem, eu me deixei levar e você nasceu”. Dona Conceição não se arrependia pelo nascimento da filha e sim pela maneira como ocorrera, pois Soraya jamais conhecera seu pai, que abandonara a mãe ao sabê-la grávida. Dona Conceição era desiludida com os homens e não desejava para a filha o mesmo destino que o seu.
Genaro procurava usar de criatividade para conquistar sua musa e acompanhado por Vitor, Olavo e Otávio numa noite, foi com todos de violão em punho para fazer uma serenata próxima à casa de Soraya, no bairro da Penha. A jovem havia se retirado para o quarto quando ouviu os primeiros acordes de uma canção: “Cabocla teu olhar tá me dizendo, que você tá me querendo, que você gosta de mim...” Ao ouvir a serenata para a filha, Dona Conceição, que até então fora mais cerimoniosa pensou: “É melhor ser franca.Vou apurar de uma vez por todas se ele tem boas intenções ”. Decidida, vai até a porta e cumprimenta todos, um pouco alegres devido a algumas doses de bebidas ingeridas para obter coragem.
- Boa noite.
- Boa noite, senhora. – responde Genaro.
- Não gostariam de entrar? – todos se espantam, pois contavam com uma reprimenda. – eu gostaria muito que entrassem, está um pouco tarde, está ficando frio e a vizinhança pode reclamar. Vocês cantam muito bem, mas não são todos que apreciam isto.
- Bem...Obrigado... – Genaro agradece sem jeito.
- Podem vir todos, eu farei um cafezinho.
- Não se incomode – pede Genaro.
- Não é incômodo algum.
Todos entram. Soraya fica escondida em cima, na escada, ouvindo a mãe conversar com Genaro, após oferecer café e alguns quitutes que fizera.
- Meu jovem, eu quero dizer que você me causou boa impressão, mas vou ser muito clara: o pai da Soraya me causou tão melhor impressão que ela nasceu um dia, por causa desta “ótima impressão”. A impressão que causei a ele, se foi boa, também foi passageira, pois quando soube que eu estava grávida, sumiu sem deixar pistas. A conclusão a que cheguei, foi que boa impressão não quer dizer nada. Por isto eu digo: me sacrifiquei muito por minha filha, sabia costurar e segui a carreira de costureira para que ela tivesse um futuro melhor que o meu. Ela é tudo para mim. Minha família sou eu e ela. Temos parentes afastados em outros estados. Tudo o que ela faz é na minha companhia, ensinei-a a se defender, a entender que o mundo lá fora é mau. Como ainda tem 20 anos, todos os contratos são assinados por mim e sempre estou com ela. Quando chegar aos 21 anos, estará consciente do que deve ou não fazer e não poderá dizer que eu não alertei. Eu errei me entregando a um homem que pensava ser o perfeito para mim, mas tenho certeza de

que depois do meu erro, cumpri com meu papel de mãe. Se suas intenções são sérias, eu aviso: namoro é aqui na minha casa; depois de pelo menos um ano, se tiver certeza de que a quer mesmo, fiquem noivos e dêem pelo menos mais um ano para se casarem, pois casamentos podem até se desfazer na porta da igreja quando não são bem pensados. O seu irmão e seus amigos são testemunhas. Eu serei uma ótima sogra se tiver certeza que será um bom marido para minha filha. – ao ver a filha num canto de cima da escada, Dona Conceição a chama:
- Soraya venha aqui, minha filha. – Soraya desce – Você deve ter ouvido tudo. Se você gosta realmente do rapaz, sabe que eu impus minhas condições. Eu quero o melhor pra você. Estamos entendidos, meu rapaz? – Dirigindo-se a Genaro
- Claro que sim, Dona Conceição.
- Ótimo. Agora só falta você nos convidar para conhecer a sua família.
- Tenho certeza de que minha mãe gostará de vocês.
Depois da saída do grupo, Soraya e a mãe conversam:
- Mamãe, eu fiquei tão sem jeito!
- Por que? Por que tem uma mãe que zela por você?
- Não... É que... Eles viram a gente assim, de robe, eu com esta cara.
- Ah, minha filha, diante da situação não dava pra se preocupar com estes detalhes. Eu os fiz entrar porque eles estavam de “cara cheia” e isto podia pegar mal na vizinhança. Você já é relativamente conhecida como modelo e eu tenho que zelar pela sua reputação. Eles entraram, mas sua mãe os convidou, ninguém pode dizer nada. Eu dei café, pra passar a bebedeira.
- Você pensa em tudo, hein?
- Principalmente em você.
- Eu gosto dele. Ele é tão romântico. O irmão dele parece estar dando uma força pra gente. A Eliana foi colega dele quando fez pedagogia.
- Olha, filha, eu achava seu pai romântico também. Confesso que este “jeitinho”, não me convence, eu tenho que ver para crer.
Marisa conhece Soraya e também fica bem impressionada.
Genaro exulta de felicidade:
- Mamãe, eu nunca senti isto antes.
- Claro, você finalmente está descobrindo o amor. Vai aproveitar muito bem o terreno.
- As construções das casas estão bem adiantadas. Eu sinto que não vai demorar muito pra eu ocupar a minha.
- Assim como não vai demorar muito o casamento com a Soraya.
- Ela é linda.
- Uma filha de vocês também seria.
- Filha?! Eu vou ser pai de um macho!
- E se for menina?
- Não vai ser menina!
- Calma meu filho, “perguntar não ofende”.
- Eu vou ter um herdeiro pra tocar meus negócios pra frente.
- Você ainda nem casou e já está pensando no filho já homem?
- Um homem de negócios tem que pensar no futuro.
Aquele coração apaixonado fazia altos planos e vislumbrava um futuro brilhante.
Marisa sentia–se feliz por ver seus filhos se encaminhando bem na vida, mas a preocupação com Vitor aumentava.