sexta-feira, 1 de maio de 2009

CAPÍTULO XIII A PRIMEIRA RENDIÇÃO

Chegaria o fim do ano e Vitor há algum tempo não bebia, pois o alcoolismo tem suas oscilações, e mesmo tendo o vício, uma pessoa pode parar de beber um tempo, mas no seu caso como no de muitos, isto não o faria parar definitivamente, pois se um amigo o convidasse para beber, Vitor descontava todo o tempo em que não havia bebido. A sua impotência diante da bebida era total. Só ele não queria aceitar.
O Reveillon, que seria festejado no SOLAR CASTELLI, era pouco apreciado por Soraya, pois Conceição há alguns meses demonstrava um cansaço, mal estar, que seria diagnosticado como um câncer já adiantado no esôfago.
Todos estariam se preparando para a festa, com exceção de Marisa e Tonha e Angelina, que preferiam passar na igreja.
Helena havia ido mais cedo com as crianças. Seus pais, não estariam presentes, pois foram passar a data em Brasília.
Vitor, não apareceria logo, o que deixou a esposa e os demais apreensivos. Já era a gota d´água. Helena definitivamente estava saturada. Depois de anos suportando o comportamento inconstante de Vitor, ela resolveria explodir. Pensou: “Ele com certeza está demorando porque foi beber. Agora, vou tirar a minha forra, quem vai beber sou eu”. Num ímpeto de revolta, Helena que sempre fora uma mulher controlada, resolveria fazer uma loucura.
Ao vê-la sozinha, um homem que se interessara por ela, resolve cortejá-la:
- Está sozinha? – Helena, já um pouco tomada pela bebida, faz um gracejo olhando para os lados.
- É... Não parece ter ninguém, nenhum fantasma, eu acho. Pode sentar.
- Você é muito engraçada e...muito bonita também.
- Obrigada...Você também é um gato.
Ao longe, Soraya e Heloísa não acreditam no que estão vendo.
- Soraya, você está vendo o que eu estou vendo?
- Helô...Não dá pra acreditar.
- Que hora pro Vitor sumir. – lamentou Heloísa.
- Ai, Helô, já está difícil suportar esta festa por causa da doença da minha mãe, no mesmo dia, o Vitor some.
- Olha Soraya, quero muito bem ao meu cunhado, mas se ele aprontar com a minha irmã, há de se ver comigo. Eu o jogo naquela piscina!
O clima vai esquentando entre Helena e o homem que além de bonito era sedutor. Aos seus 32 anos, ela cansara-se de fazer o papel de esposa dedicada, que tudo suporta, que não faz uma loucura por causa dos filhos. “Chega!” – dizia para si própria. – “Vou viver uma aventura, vou dar uma lição naquele bêbado!”
Os dois começam a dançar e os presentes percebem os olhares, os sorrisos. Alguns nem sabiam de quem se tratavam, outros, estarrecidos, se perguntavam sobre o que teria havido com aquela mulher tão séria, tão compenetrada, incapaz de se expor tanto.
Com sabedoria, Heloísa, Soraya e Lúcia, afastam as crianças de perto da mãe, antes que pudessem vê-la dançando com o homem.
Inesperadamente, Vitor aparece, bêbado.
- Vitor?! – espanta-se Paulo.
- Que foi? – pergunta Vitor irritado
- Você só aparece agora, cara? Ainda tem coragem de vir de porre? Toma jeito!
- Paulo, “não enche o saco”, tá?
- “Peraí”, cara, calma! Aonde você vai?
- Uai! Não é festa? Deixa eu curtir! Vou dançar!
- Vitor! Espera!
- Sai pra lá, Paulo! Parece carrapato!
- Vitor! – Vitor vai até o salão onde todos dançam e embora Paulo tivesse tentado avisar, o irmão encontra Helena dançando abraçada com o sujeito. Encontra uma mulher sozinha que tira para dançar, porém, esta não aceita, achando-o um chato. Irado, vai até Helena e o homem e grita:
- Larga minha mulher, cara!
- Não enche, quem mandou sumir?! - Responde Helena. Vitor, no auge de sua cólera, dá um “direto” no rosto do homem que reage. Está armada a confusão. Com a briga, a festa praticamente termina. Genaro e Paulo contêm o irmão e o homem e os convidados, atônitos assistem a tudo, procurando disfarçar. Muitos se retiram discretamente.
Genaro fica irado, pois o irmão havia estragado sua festa, causando uma péssima impressão inclusive a muitos empresários conceituados e muitas pessoas importantes de cerimônia, convidadas pela primeira vez para o evento e que provavelmente não voltariam. Recrimina ferozmente o irmão:
- Você me envergonhou, Vitor! Me humilhou! Quando vocês quiserem “lavar suas roupas sujas”, escolham outro lugar!
- Calma amor. – apazigua Soraya.
- Você também é um tonto, Paulo! – recrimina Heloísa – se fosse mais prático, teria conseguido evitar tudo isto!
- Ele saiu correndo, eu o perdi de vista! – justifica Paulo.

- Lelê, você me traiu! – grita Vitor.
- Já o fiz tarde! – responde Helena levantando-se – se pensa que eu vou ficar aqui, está enganado! – Helena vai saindo e Vitor tenta ir atrás.
- Volta aqui!
- Vitor! – Paulo tenta segurá-lo e ele desvencilha-se, correndo atrás de Helena.
- Volta, Lelê!
- Me deixa em paz!
- Volta! – Helena continua a correr e Vitor continua correndo atrás. De repente, Helena tropeça e cai.
- Lelê, não me deixe! – Vitor chora e segura Helena caída no chão ficando em cima dela, que grita:
- Me solta, eu te odeio!
- Eu te amo!
- Seu fracassado, eu não quero mais você, aquele cara é meu amante, já saí com ele antes! – Helena mente querendo vingar-se, seu desejo é de humilhar Vitor.
- Ordinária! – Vitor esbofeteia Helena que devolve com mais força.
- Miserável! Você merece ficar só pra vida inteira! Você merece ficar na sarjeta que é o lugar de “paus d’água” como você! – Helena fica com tanto ódio que cospe no rosto de Vitor.
Os irmãos e cunhadas, vão até Vitor, tentando ajudar. Helena deixa-o com Genaro e Paulo e Heloísa e as outras, amparam-na.
- Vitor, o que você fez... – lamenta Sérgio.
- Acabou, mano, acabou...
- Meu irmão, se eu pudesse ajudá-lo. – compadecia-se Sérgio.
- Você está sendo muito condescendente, Sérgio. Este cara, precisa de uma “dura!” – repreende Genaro.
- Não é hora disto. – argumenta Sérgio.
- Esta é boa! E o que ele fez aqui? A vergonha que nos fez passar?
- Vamos entrar, gente. O Vitor precisa de um banho frio. – aconselha Paulo.
- O que ele precisa é de vergonha na cara! – sintetiza Genaro.
Genaro chegara ao seu limite. A tolerância nunca fora uma de suas qualidades e diante da atitude do irmão, sentia-se no direito de repreendê-lo, de até arrasá-lo para que sentisse o que havia feito. Estava decidido a não convidar mais Vitor para nada. Ele havia atrapalhado seus negócios. Embora um homem ainda romântico, Genaro tornava-se prático em relação ao trabalho e frio com situações como a do irmão. Nada entendia sobre o emocional.
No dia seguinte, Vitor acorda tarde e encontra Heloísa, que fala duramente com ele.
- Vitor, eu estou muito decepcionada. Conheço você desde menino, nunca pensei que chegasse ao ponto que chegou. Minha irmã quer separar-se de você. Eu a apoio. Apesar de tudo, lamento por você e pelos seus filhos, mas eu faria o mesmo. Felizmente eles não viram a cena que se deu aqui.
- Cadê a Lelê?
- Já foi pra casa. Vai mandar suas coisas pra casa da Marisa.
Vitor não tem mais moral para argumentar nada. Sente sua vida acabada. Vai para a casa de Marisa e isola-se, numa profunda depressão.
A mãe não sabe o que fazer. Somente ora ao lado de Tonha, que também sofre muito.
Vitor passa a beber cada vez mais. Seu desejo é de se destruir.
Olavo e Otávio dar-lhe-iam um tempo para reestruturar sua vida, continuando a pagar seu salário.
Vitor se isolara. Não queria ver ninguém.
Sua prima Angelina sabendo do ocorrido vai visitá-lo, procurando prestar-lhe solidariedade:
- Primo, como você está?
- Como eu poderia ir?
- Eu sei que está sofrendo. Estou muito triste por saber que você e Helena se separaram.
- Ninguém pode fazer nada, a não ser lamentar, mesmo.
- Vitor, você não gostaria de ir comigo à minha igreja?
- Ah, Angelina, “dá um tempo!” você acha o que? Que eu vou lá e um milagre vai acontecer na minha vida?
- Se você abrir seu coração pra Jesus, quem sabe?
- Eu só acredito que Ele faz milagre, depois de ver acontecer algo que não acredito acontecer.
- O que?
- Que a Lelê volte pra mim.
- De minha parte, vou orar por isto.
- Não perca seu tempo. Ela não quer mais ver a minha cara.
- Tenha certeza de que Este Deus que eu creio, não quer ver você infeliz. Primo, eu já tenho que ir. Quero que saiba que você pra mim é mais que um primo, um irmão. Eu desejo tudo o que houver de maravilhoso pra você e vou orar. Se no caso você só vai crer neste Deus se ela voltar, Ele pode fazer isto, pra você crer n’Ele. Ele nunca faz menos do que promete, mas freqüentemente, mais do que prometeu.
Depois que Angelina sai, Vitor fica divagando. Não crê no que disse, mas sente-se consolado com a visita da prima.
Numa madrugada, o telefone toca na casa de Marisa:
- Alô? - esta atende apavorada. – Como? Sim, sou eu. Ele é meu filho. Eu já vou.

Os moradores de um prédio próximo a um bar onde Vitor fazia arruaça com um grupo se irritaram e fizeram queixa à polícia, que prendera todos. Marisa pediu ajuda a Olavo e Otávio e pagou a fiança pelo filho.
Sentindo-se arrasado, Vitor lamenta-se:
- Eu sou um infeliz, sem mulher, sem os filhos, eles não querem mais saber de mim. A Lelê não tem nem me deixado vê-los.
- Vitor, ela telefona para mim, dando notícias das crianças. – consola-o Marisa. - Tem razões de não querer que você vá lá. Vocês acabaram de se separar depois de uma briga horrível! Dê um tempo pra ela, meu filho. Você também precisa de um tempo, não está em condições de conversar. Veja o seu estado, pense no que fez. Você nunca chegou ao extremo que chegou hoje.
Achando Marisa muito condescendente, Olavo argumenta:
- Dona Marisa, eu peço licença para falar em particular com o Vitor. – Marisa concorda e os dois ficam sós.
- Vitor, o que é que você está pensando? Que vou ficar aqui me debulhando em lágrimas dizendo: “Coitadinho, como está sofrendo!” Cara, toma jeito. Você tem como mudar tudo isto, basta querer, basta ter um pouco de amor próprio, vergonha na cara. Vá aos Alcoólatras Anônimos e encare a realidade. Faça o mesmo que qualquer pessoa que se admite com fraquezas faz. Olhe-se no espelho e diga para si próprio: “Eu sou um alcoólatra, eu preciso e quero ajuda”. Você ainda não o fez, porque é orgulhoso!
- Não enche, Olavo! Não me resta nada na vida a não ser a bebida. Ela vai ser minha companheira agora. – responde Vitor com ar de derrota.
- Se quiser continuar assim, lamento. Conheço pessoas - que como eu - odeiam que se tenha pena delas, você adora a pena, adora sentir autopiedade, ser fraco. Continue fazendo isto consigo próprio, pra ver até onde você vai chegar. – quase saindo, Olavo recua e dá um aviso a Vitor:
- Quero avisar que não o aceito no escritório até que tenha ido a uma reunião dos Alcoólatras Anônimos. Pode dizer que estou jogando pesado, estou mesmo. Nem eu, nem meu irmão lhe dirigiremos a palavra se você não mudar de atitude.
Vitor continuava mergulhado em seu orgulho. “Quem são eles para determinar o que devo ou não fazer? Vou continuar bebendo, o quanto quiser e quando quiser!”.
Na primeira oportunidade, logo passada a ressaca, lá estava Vitor, três dias depois, bebendo num bar.

- Um brinde à vida! Enquanto ela existir. – bradava erguendo o copo numa falsa felicidade.
A angústia era visível para os que o rodeavam nas outras mesas.
- Este cara já esteve aqui antes. – comentava um antigo freqüentador.
- Agora ele é “sócio de carteirinha”. – respondeu o dono do bar – a mulher o largou e ele tem feito ponto. Foi só curar a última ressaca pra reaparecer.
As músicas que o povo cantava no bar pareciam ser para Vitor: “Eu gostei tanto, tanto, quando me contaram, que lhe encontraram chorando e bebendo na mesa de um bar”. Logo a seguir, uma mais contundente: “Mas se algum dia talvez a saudade apertar, não se perturbe, afogue a saudade nos copos de um bar”.
- Assim já é demais! – irritou-se Vitor – “Tão curtindo com a minha cara!”
- Ih ... “Pega leve”, cara...a gente nem te conhece! – protestou um entre os presentes que cantavam.
- Eu vou é pra outro bar!
Vitor atravessa a rua e sem olhar que vem um carro, é atropelado. Embora não tenha tido grandes conseqüências o atropelamento, o homem que dirigia saiu do carro e o socorreu, levando-o para o Miguel Couto. Vitor ficara semi-inconsciente. Quando volta a si, vê o homem e Marisa diante dele.
- Meu filho...que susto você me deu.
- Desculpe, mamãe...eu não sei o que dizer.
- A culpa não foi minha, amigo. – justifica-se o homem. – Você devia ter mais cuidado.
- Eu...peço desculpas a você também, não tinha obrigação de me socorrer.
- Obrigação moral eu tenho com todo o ser humano e você é um. Ninguém é melhor do que ninguém. Somos todos iguais.
- Pois eu me sinto o pior dos seres humanos. – lamenta-se Vitor.
- O seu problema é a autopiedade. – ao ouvir estas palavras, Vitor fica impactado. Como um homem que acabou de conhecê-lo poderia dizer-lhe isto?
- Você deve me achar um intrometido, mas eu vou lhe passar um pouco da minha experiência; eu também já bebi muito, cheguei a dormir na rua. Sentia-me exatamente como está se sentindo agora. Quando eu pensava que estava tudo acabado, que só restava esperar a morte, fui levado da rua por pessoas que nunca havia visto para uma reunião dos Alcoólatras Anônimos. Você já ouviu falar de lá?
- Já estive lá.
- Não voltou?
- Não.
- Por quê?
- Eu... não me senti à vontade.
- Você não se sentiu à vontade, naturalmente por não querer admitir que é alcoólatra. Admita, então se sentirá à vontade. Não se ofenda pelo que eu disse. O que está acontecendo com você agora, já aconteceu comigo. Como eu disse, somos todos iguais. Lá, outras pessoas que passaram por problemas iguais ou até

piores poderão ajudá-lo. Se você permitir, é claro. O primeiro passo, é aceitar sua impotência perante o álcool.
- Eu vou pensar.
- Tome aqui este cartão. É do grupo que eu freqüento.
- Qual é o seu nome?
- Pedro. Será um prazer vê-lo na reunião. Até breve.
- Obrigada por este anjo, Senhor. – murmurou Marisa.
Aquele homem, que Marisa considerava enviado por Deus, conseguira mexer com o interior de Vitor. Depois daquela situação, em que Este mesmo Deus lhe provera um livramento - como em tantas outras – ele passaria a ver as coisas com mais clareza. Mesmo abatido, em profunda depressão, finalmente iria a uma reunião, desta vez com mais consciência e objetivo de obter ajuda. É muito bem recebido principalmente por Pedro:
- Seja muito bem vindo, amigo. – saudou-o apertando sua mão e abraçando-o.
Ao chegar sua vez de falar, Vitor sente que pode confiar nas pessoas presentes. Vence o orgulho que tivera até então e inicia:
- Meu nome é Vitor Silva Castelli. Tenho 34 anos. Já estive em outras reuniões, mas só como freqüentador, nunca quis assumir o que estou pronto para fazer agora: que sou um alcoólatra. Estou passando por um momento muito difícil. Minha mulher separou-se de mim, tivemos uma briga como nunca tivemos em 12 anos de casados. Foi um vexame, pois foi no Reveillon na casa de meus irmãos. Eu sinto que vi na bebida o meu refúgio. Uma vontade de esquecer coisas que me atormentaram por toda a vida. Hoje estou começando a entender que se eu beber tentando matar alguma lembrança, ela será como um corpo que morre afogado; vai ao fundo e depois bóia, reaparece na minha frente e a lembrança fica, com o mesmo impacto de presenciar a imagem que não se apaga. Eu...Preciso de ajuda, por favor. – todos aplaudem como é o costume nas reuniões e Vitor sente-se apoiado. Faz amizades novas e entende que há problemáticas muito maiores que a sua. Sai do seu egocentrismo e começa entender o que se passara com ele durante tantos anos.
Desde a primeira reunião e daí por diante, não beberia mais um gole sequer. Logo depois de assistir a reunião, Vitor traz a ficha de ingressante.
Volta ao escritório, para a surpresa e Otávio e Olavo, que percebem no amigo uma melhora que os surpreende.
- Vitor... como você está bem! – admirou Otávio – você foi aos Alcoólatras Anônimos? – deduziu rapidamente.
- Não faça suspense, amigo. – inquietou-se Olavo.
- Meus caros podem escrever nas agendas de vocês, assim como vou escrever na minha: dia 10 de janeiro de 1986, o dia em que Vitor parou de beber. Eu até gostaria de dizer primeiramente à minha mãe, para ouvi-la dar um: “Glória a Deus!” Mas não resisti ao desejo de falar a vocês, já que estava aqui tão perto.
- Parabéns, colega! – exclamam os gêmeos juntos, abraçando o amigo.
- Agora, só faltaria uma coisa para minha alegria ser completa...
- O que? – perguntam os gêmeos quase ao mesmo tempo.
- Que a minha Lelê soubesse e acreditasse que eu não vou mais beber e que voltasse pra mim.
- Dá um tempo pra ela, amigo. – aconselha Otávio.
- É, cara, ela ainda deve estar muito magoada, a briga foi feia, ela tem que por as idéias em ordem. – pondera Olavo.
- É muito duro. Depois do Reveillon, eu nem vi meus filhos. Ela tem medo de deixá-los comigo. Eles devem estar muito tristes também.
- A ansiedade só vai atrapalhar. - analisou Olavo - Se você já conhece o programa de recuperação dos Alcoólatras Anônimos, sabe que se fala muito dos estágios emocionais e a depressão, vem logo depois da euforia. Se você ficar pensando nos seus prejuízos, não conseguirá avançar mais na sua recuperação. Se você tem certeza de que não beberá mais, continue se esforçando para manter o equilíbrio. Dê um tempo para você também.
Apesar de sentir-se muito melhor, confiante de que não beberia mais, Vitor não se libertava da dor da separação. Já não estava mais melancólico, porém imensamente triste. Por muitas vezes, chegava a chorar ouvindo no rádio ou em discos de sua coleção, as músicas românticas que pareciam contar as fases de seu casamento.
Uma vez, ouvindo uma música cujos versos diziam: “Eu não devo insistir, nosso amor complicado, não podia dar certo”, chega a pensar alto:
- É... Eu não devo insistir mesmo.
Passado mais de um mês de sua separação, Helena autoriza Allan a passar um fim de semana com o pai. O menino sentia mais saudade dele do que Bertinha e Celinha, pois com o ocorrido, ficaram bem mais próximas da mãe, embora conversassem com boa vontade com o pai pelo telefone, desculpando-se por ainda não o terem visto.
Allan aproveita o quintal enorme da avó para andar de bicicleta, passeia com esta e Vitor, já que Helena havia solicitado à sogra que estivesse sempre em vigilância, pois ainda não acreditava que Vitor tivesse parado definitivamente de beber. Na sua visão, ele poderia ter de uma hora para outra a chamada recaída.
Allan volta muito feliz para Sepetiba e comenta com a mãe:
- Mãe, eu me diverti tanto!
- É filho?
- Foi muito bom!

- É mesmo?
- O papai nem bebeu.
- É? – Helena pergunta de uma maneira descrente, pois deduzia que Vitor estaria aparentando um controle diante do filho para recobrar a sua confiança.
Noutra ocasião, as meninas vão junto com o irmão caçula.
Na sua última semana de férias, os três matam as saudades do pai, que aproveita para saber da mãe:
- Como está sua mãe? – pergunta à Bertinha
- Está bem, pai.
- Bem mesmo? – pergunta Vitor com um ar desconfiado.
- É...
- É...o que?
- Ah... sei lá, pai. Eu acho que ela sente a sua falta.
- Ela comentou alguma coisa com você?
- Não, mas a gente sente isto. Minha mãe não é de falar, mas eu...
- Você o que?
- Pai, você promete que não conta nada à Celinha?
- O que, minha filha?
- Pai sobe aqui comigo.
Bertinha aproveitava o momento, pois Allan e Celinha haviam saído com a avó. Pega o pai pela mão e sobe com ele até o quarto. Chegando lá, abre a mochila e mostra vários papéis amassados.
- O que é isto? – perguntou intrigado Vitor.
- Lê, pai. – Bertinha entrega os papéis para o pai, que os abre para entender o que está escrito. Reconhece que a letra é de Helena:
“Apesar de separada, não consigo parar de pensar “naquele mala” do Vitor. Parece praga! Eu quero esquecer, preciso esquecer, mas não consigo! Fico representando pros meus filhos, espero a noite pra poder chorar. Dizem que eu já me separei dele tarde, que ele não merecia ter sido casado comigo tanto tempo, me fazendo aturar as bebedeiras, às humilhações que ele se expunha. Mas o que fazer? A gente não escolhe de quem a gente vai gostar! Por que eu precisava fazer o que fiz no fim do ano? Ele estava errado, claro, mas eu estava tão cheia que queria me vingar. Agora, os meus sonhos foram por água abaixo. Eu queria adotar uma criança. Queria mais uma menina. Tinha falado com ele, ele concordou. A Lolô disse que ia entregar o caso a uma amiga. Como é difícil! O pior é ter que admitir que eu ainda amo aquele cara! Mesmo sofrendo, não vou “entregar os pontos!”Ele tem que sentir o que fez comigo todos estes anos! Vou chorar de novo...”
Bertinha, querendo fazer as vezes de “cupido”, achara os papéis amassados ao acaso no lixo ainda quase vazio. Sem que a mãe percebesse, guardou-os consigo na intenção de mostrá-los ao pai, logo que tivesse oportunidade.
- E então? – perguntou Bertinha, como que esperando uma conclusão do pai.
- Você é esperta, hein, filha? Mas eu acho que ela não vai voltar pra mim. Ela está muito magoada.
- Pai, a minha avó Marisa diz sempre que as palavras têm poder. Você tem que acreditar que ela vai lhe perdoar. Se você ficar nesta de que ela não volta, aí é que ela não volta mesmo.
- Vamos ver...é dar tempo ao tempo.
Apesar da ansiedade, Vitor procurava conter-se. Um fio de esperança começa a nascer em seu coração e lembra-se das palavras de Angelina. Mesmo assim, ainda se pergunta: “Será que ela sente a minha falta?” “Será que ainda lembra nossos bons momentos?” “Devo ter esperança?” Só o tempo responderia.

2 comentários:

denise beliato disse...

Que pena que ta acabando...
Mas como sempre cada capitulo uma novidade.

Bia disse...

Que confusão lá no início!!
é sério q o Vitor tá tomando consciência das coisas??
pena q precisou chegar a situação extrema de separar-se da mulher..
só falta agora ele aceitar a Jesus..
espero q a Helena possa perdoá-lo tbm .. e q eles voltem a ficar juntos!