segunda-feira, 15 de setembro de 2008

CAPÍTULO II - VITOR & HELENA

Numa manhã de férias escolares, Vitor que contava ainda 10 anos de idade, fora autorizado pelos pais a dirigir sua bicicleta nova pelo quarteirão. O menino sentia-se importante e saía à calçada com o veículo como se fosse o dono desta. Tomando a frente de todos, ia rápido e nem se deu conta que quase atropelara uma lavadeira que ia com uma trouxa de roupa na cabeça e exclamou irritada:
- Não está vendo que aqui é esquina?
Vitor olhou-a com indiferença e seguiu seu caminho, enquanto uma bela menininha loura, de cabelos quase curtos, porém cheios e encaracolados, olhos verdes e um vestidinho estampado e decotado, bem no estilo de verão, criticou:
- Que menino mal educado!
Vitor, embora tenha ouvido, fingiu não ligar. Os outros meninos, ao reparar a arrogância de Vitor, resolveram dar-lhe uma lição: Comandados por seu “líder” da rua, deram uma “fechada” com suas bicicletas, na do menino. Assim, sentiu-se vencido, pois eram muitos e ele, muito esperto, reivindicou seus direitos:
- Quatro contra um?! É covardia!
- A rua não é só sua, você não deixa ninguém passar!
- Tá bem, eu vou embora, mas volto!
Com sabedoria o menino fez a sua “ameaça”, embora no íntimo sentisse medo. Mas fora ajuizado e não deixaria o local com facilidade.
Numa outra ocasião, também dirigindo seu veículo, pensou ter avistado a tal menina e quis logo se “mostrar”, debochando:
- Está mais calma hoje?
- Quê?!
- É com você mesma que eu estou falando.
- Eu nunca vi você “mais gordo!”
- Ora, não seja cínica!
- Cínico é você, fingindo que me conhece, seu metido! Não tem o que fazer?!
- Quem não tem o que fazer é você que finge que nunca me viu e me chamou outro dia de mal educado!
- Ah! Então é você!
- Sou, sou eu!
- Só que está criando caso com a pessoa errada, otário!
- Pessoa errada?! Como assim?
- Você nunca viu irmãs gêmeas na vida?
- Ah, não inventa!
- Não acredita, não é? Lelê! – Chamando a irmã
Naquele momento, aparece outra menina exatamente igual àquela e as duas, num ar irônico fitam o menino, embasbacado e sem graça. A menina que fôra chamada, informa:
- Não foi a minha irmã que teve a honra de chamar você de mal educado, e sim eu. – disse Helena, batendo com a mão no peito, num sinal de orgulho.
- Se fosse eu que estivesse na rua naquele dia, com certeza teria feito o mesmo, sem dúvida. – acrescentou Heloísa, a gêmea.
- Bobão! – gritaram as duas juntas,rindo enquanto Vitor retirava-se indignado. Helena e Heloísa, eram filhas do então na época tenente - coronel Marsílio Carajás e da funcionária pública Marta Guerra Carajás, que além das duas meninas que contavam ainda 8 anos, também tinham mais uma filha de 6 anos: Hélida. Apesar de ser militar, o tenente – coronel Marsílio Carajás era muito carinhoso e dedicado para com as três e as apelidara de: Lelê, Lolô e Lili. Esta última, com um tipo mais semelhante ao da mãe, sendo morena de olhos castanhos e também herdara o seu gênio, com um temperamento mais recatado, não gostando de brincar na rua como as irmãs, preferindo as brincadeiras caseiras com bonecas.
Vitor não imaginava que teria uma certa “revanche”; Numa tarde, a menina Helena passeava despreocupada com sua bicicleta, próximo à casa de Vitor que ficava no mesmo quarteirão da sua. De repente, um carro saindo de marcha à ré, atingira a menina, embora estivesse lento. Helena caiu e embora não tivesse sofrido maiores conseqüências, ralara o joelho. Marisa, que no momento estava na rua, correu em seu socorro:
- Você está bem?
- Ai... Estou...Só ralei um pouco o joelho. – respondeu Helena, tentando agüentara dor.
- Venha comigo, você mora aqui perto, não é?
- É...Eu posso ir pra casa.
- Vamos à minha casa que eu lavo este ferimento.
- Não precisa...
- Que é isso, não custa nada.
Vitor, que no momento estava em casa assistindo a TV, viu a mãe entrar com a menina machucada, que ao vê-lo, ficou sem graça. Vitor sentiu uma mistura de compaixão e vingança e perguntou, fingindo não dar muita importância:
- Que foi, mamãe?

- Esta menina se machucou de bicicleta aqui perto e eu vou ajudá-la a limpar a ferida, depois vou levá-la à sua casa. Ela mora aqui perto.
- Coitadinha... – disse Vitor, com um ar cínico.
Helena percebera o jeito cínico do menino, e pensou consigo mesma: “Ele não perde por esperar!”
- Cadê seus irmãos? – indagou Marisa
- Brincando no quintal.
- Eu vou ajudá-la a se lavar e já volto.
Muito jeitosa com crianças, Marisa cuidou com carinho de Helena e logo telefonou para sua casa, avisando o ocorrido e comprometendo-se a levá-la para casa.
Ao chegar lá, dona Marta estava aflita e ao abrir a porta interrogou imediatamente a filha:
- Menina, como é que aconteceu isto? – perguntou, observando o ferimento no joelho de Helena.
- Desculpe, senhora, o trabalho – disse dona Marta, desculpando-se com Marisa.
- Foi um prazer. Ela estava pertinho da minha casa.
- Ah, a senhora mora no número 180?
- É.
- Muito obrigada dona Marisa.
Ao perceber a presença de Heloísa, Marisa exclama:
- Gêmeas!
- É...Mas valem por quatro! Eu cheguei há pouco tempo do trabalho. Só deixo as duas saírem aqui para perto. Já se fizeram conhecer pela vizinhança, por isto que fico tranqüila.
- Dona Marta, foi um prazer conhecê-la, assim como saber que tem duas encantadoras filhas.
- Três. A caçula está brincando no quarto.
- Eu tenho quatro meninos.
- Eu não pensava ter três, mas primeiro me veio esta “dose dupla” e quando não esperava, descobri que estava grávida novamente.
- Quando precisar de qualquer coisa, estamos aqui às ordens. Tão perto, não é? Mora aqui há quanto tempo?
- Viemos para cá há pouco. Meu marido e eu estávamos em Magé. Ele é tenente-coronel.
- De meus parabéns pelas filhas e pela esposa. A senhora parece ser uma mãe muito dedicada. Espero ainda conhecer sua outra filha.
- Muito obrigada dona Marisa. Desculpe o trabalho que esta menina deu.
- Ora, foi um prazer. Até logo.
- Até logo.
Dias depois do ocorrido, Vitor saía novamente com sua bicicleta, cheio de si, sentindo-se o dono da calçada. Novamente quase atropelou um senhor mal humorado, que o repreendeu:
- Não olha por onde passa com esta “geringonça?”
Vitor, com seu ar de superior, nem se importava. De repente, vê Helena passar e tem a prova de que era ela, pelo machucado no joelho. Resolve então implicar com a menina e pergunta:
- Está doendo muito ainda?
- Olha garoto, eu só não respondo o que eu posso fazer doer mais em você por duas razões: a primeira é porque sua mãe foi muito boa comigo e eu não vou bater no filho dela; a segunda é porque não vou sujar minhas mãos!
- Esta é boa! Você me bater?!
Logo aparece Heloísa e pergunta em defesa da irmã:
- Ô Lelê, você vai dar confiança a este moleque? Vamos pra casa, não vamos nos “misturar!”
- Misturar... – ironiza Vitor.
- Porque? Você se acha melhor do que nós? – pergunta Helena.
- Não acho, eu sou!
- Coitado! – riem as duas.
- Vocês vão pra casa porque estão com medo!
- Medo é?! – gritam as duas indignadas
As duas sentiam-se feridas em seu orgulho. Era demais aquele garoto insuportável, achando-se temível. Tinham que lhe dar uma lição.
- Olha aqui, garoto, toma! – impulsivamente, Heloísa dá-lhe uma bofetada, retirando-se logo depois. Porém, Vitor não ia deixar por isto mesmo e a persegue com a bicicleta, enquanto Helena puxava-lhe o cabelo.
- “Me solta”, pirralha!
- Vitor! – exclamava Vitório, que voltava do trabalho. – Já para casa! Está de castigo!
- Ela puxou meu cabelo e a outra me bateu! – defende-se Vitor.
- Não interessa! Eu sei que você deve ter começado!
Vitório pegou Vitor pela orelha e levou com a outra mão a bicicleta. As meninas assistiam sentindo-se vitoriosas e diziam rindo:
- Bem feito!
Irritado, Vitório proibiu Vitor de passear de bicicleta e Marisa, como boa esposa e mãe, respeitou a decisão do marido e argumentou com o filho:

- Olhe filho, eu não gosto de me envolver em brigas de crianças, pois vocês se desentendem, se agridem, mas depois estão brincando. Pelo que conheço de você, sei que provocou. Não foi?
Vitor contou a verdade à mãe que sendo conciliadora, foi conversar com Marta:
- Dona Marta, eu lamento a implicância do meu filho com suas meninas. Sabe como é criança...
- Mas a senhora está preocupada com isto? Nós já fomos crianças. Sabe, eu já soube de muitos desentendimentos de infância que terminaram em casamento.
Marisa riu sem pensar no quão proféticas eram as palavras de Marta. O tempo iria confirmar aquela frase, mas muitas coisas haveriam de acontecer...

5 comentários:

Leila disse...

Capítulo 2, Vítor, Helena, Heloísa, D Marta, Marisa, as aproximações se iniciando... as brincadeiras infantis, de um tempo de infância já longíguo que sinto falta nos dias de hoje, as brincadeiras de ruas que não mais existem.

denise beliato disse...

Oi...
Comecei a ler sua história e estou gostando muito.
Meus parabéns continue escrevendo pois Deus te deu um talento e tanto.
E realmente essa história lembra a infância de muitas pessoas.

as linhas dos meu mundo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
as linhas dos meu mundo disse...

Minha net [jurássica] realmente não ajuda!! tive de excluir o outro coment' e postar de novo! então lá vai..

"muitas coisas haveriam de acontecer"? ain , Meu Deus!! Eu tenho algumas teorias.. mas o suspense permanece!! Vou descobrir em brevee!!

Essas implicâncias de criança.. já vi muito disso se transformar, quando não em amizade, num um grande amor!!

Unknown disse...

É legal relembrar do tempo de crianças...

Acabei de começar a ler e estou gostando...

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