domingo, 14 de setembro de 2008

OS CASTELLI - I - A LUZ DO TRIUNFO

A VITÓRIA DE UM IMIGRANTE
Logo após o término da segunda guerra mundial, um italiano nascido em Nápoles chegava ao Brasil, recomendado por um tio a um amigo deste, seu compatriota, Sr. Bruno Goldoni empresário do ramo de construção civil.Vitório Castelli, jovem belo, alto e louro de olhos azuis que contava apenas 20 anos de idade, deixara na terra natal a mãe viúva e mais nove irmãos e tinha o objetivo de vencer e o chefe sentiu seu empenho em aprender e colocou-o inicialmente como auxiliar administrativo. Vitório esforçou-se, estudou toda a legislação referente à construção civil e com seu salário conseguiu iniciar o curso superior de engenharia e com dois anos na firma, já havia subido de auxiliar para assistente administrativo. Vitório desenvolveu uma percepção admirável para negócios e por sua visão, a firma ampliou-se, realizando grandes empreendimentos, não em construções, mas também em reformas. Além de prestar grandes serviços, desenvolver idéias para construções em áreas ainda não exploradas, Vitório acumulou funções administrativas e de compras de material, conseguindo material mais barato e de boa qualidade. Assim, após pouco mais dois anos de árduo trabalho, Vitório veria a firma na qual ingressara, a GOLDONI EMPREENDIMENTOS, passando a se chamar: GOLDONI - CASTELLI EMPREENDIMENTOS.
“Deus reconheceu o meu esforço!” – festejava Vitório. Mal saberia que Deus ainda faria grandes coisas em sua vida. A primeira destas, seu crescimento profissional e logo a seguir, prepararia o caminho para a sua vida sentimental. O fato se daria de uma forma não só romântica como muito interessante: Um dia, o Senhor Goldoni receberia um telefonema sobre o anúncio de uma casa de veraneio. Não tendo a oportunidade de apresentá-la, lembrou-se logo de seu “faz-tudo” e o chamou:
Vitório!
- Pronto!
- Companheiro, preciso de um grande favor seu.
- É só falar.
- Acabei de receber um telefonema de um senhor que ficou interessado naquela casa de veraneio, aquela nova de Petrópolis, lembra?
- Ah! Sei qual é!
- Pois é... Você bem disse que ia ser fácil vender.
- Logo que olharem, não vão nem pensar; churrasqueira, lareira, seis quartos, quatro banheiros.
- Vitório, você vai vender assim como já vendeu as que achávamos mais difíceis. Use o seu talento. Está aqui neste papel o endereço. Vá lá e marque uma visita à casa. É um casal com dois filhos. Ele quer mais informações, por isso eu disse que você iria para dar.
- É daqueles compradores difíceis, né?
- É, mas você já tem experiência, e vai se sair muito bem. Vá lá agora, aproveite a oportunidade.
- É pra já!
Decidido a efetuar mais uma venda de sucesso, Vitório com todo o ânimo e persistência chegou à casa do senhor e maravilhou-se ao ver a fachada do imóvel: num bairro nobre da zona sul do Rio de Janeiro – Ipanema – uma casa com varanda, bem cuidada e pintada de branco, portões e janelas azuis, um verdadeiro palacete. Impressionou-se tanto, que até exclamou para si mesmo:
- Quem me dera tivesse vendido uma assim! Dá vontade até de morar!
O jovem continuava tão extasiado, que quase esquecera o que viera fazer e voltando à realidade, como que despertando de um sonho, logo se concentraria e tocaria a campainha.Logo após, uma adolescente negra chegaria à porta. Era Antônia, (Tonha) uma “cria” da casa. Sua mãe Nancy era empregada do casal dono da casa, Sr. Homero e D.Noemi.
- Pois não?
- Bom dia. – cumprimentou Vitório.
- Bom dia. - respondeu a menina.
- Estou procurando o Sr. Homero Silva. Ele ligou para a firma interessado em uma casa em Petrópolis.
- Ah, sim. Ligaram avisando que o senhor viria. Pode entrar.
- Obrigado.
Entrando na propriedade dos Silva, Vitório sentia-se mais maravilhado. Via um enorme quintal, garagem, um canteiro de plantas. Sentiu-se um pouco assustado ao ver dois enormes cachorros, que a menina logo tratava de recolher ao canil. Chegando a entrada, a jovem convidou:
- Por aqui, por favor.
- Obrigado. – respondeu entrando.
A jovem fora chamar os patrões e na sala, Vitório veria mais uma imagem que o extasiaria por completo: Uma bela jovem ao piano. Era Marisa, à época contando 17 anos, quase uma menina, mas apesar da baixa estatura tinha um porte elegante de moça, com seus belos olhos castanhos amendoados e cabelos negros levemente ondulados, não muito longos. Ao notar-se observada, a jovem parou de tocar e virou-se para trás. Embora tomada de surpresa por aquela presença, cordialmente perguntou:
- O senhor espera por alguém?
- Sim. O Senhor Homero Silva.
- É o meu pai.

- Porque parou de tocar? A música é tão bonita.
- Obrigada. Deve gostar de música, os italianos geralmente gostam muito. – concluiu Marisa pelo seu sotaque.
- “É vero”.
- Na minha família também tem italianos. Eu sou bisneta.
Interrompendo a jovem Marisa, descia apressado seu irmão Ciro, de 14 anos, um pouco alto para sua idade, também moreno como a irmã, iniciando suas reclamações, sem se dar conta de que havia uma visita:
- Ai, até que enfim acabou o “concerto!”
Com um ar superior, a jovem não queria entabular discussões e apresentou:
- Este é meu irmão, Ciro. Este é o Senhor...
- Vitório Castelli. Muito prazer. – disse Vitório estendendo a mão ao garoto.
- “Prazer...” – respondeu o garoto apertando a mão de Vitório, sem jeito.
Logo em seguida, descia D. Noemi, apressada, perguntando à empregada:
- Nancy! Cadê o terno que você passou pro “Seu” Homero?
- Já vou levar, D. Noemi! – respondeu apressada, trazendo o terno num cabide e subindo. Ao ver Vitório, D. Noemi com um olhar interrogativo, dirige-se a este:
- Sim?
- Eu sou Vitório Castelli, da Goldoni / Castelli Empreendimentos.Vim falar com o Sr. Homero.
- Ah, sei...Sobre a casa?
- É.
- Meu marido sempre quer saber detalhes antes de fazer uma compra. Poderia ter marcado direto no local.
- Não há problema. Posso dar todas as informações que ele desejar.
- Por favor, espere que ele já vai descer.
- Não há pressa.
Apressadamente descia o Sr. Homero. Homem de estatura mediana, encorpado, cabelos grisalhos, apesar de não ter idade muito avançada – 47 anos -, um pequeno bigode e olhar sério, jeito austero. Avistando o visitante cerimoniosamente o cumprimentou:
- Bom dia.
- Bom dia, Sr. Homero.
- O Sr. é...
- Vitório Castelli, da Goldoni / Castelli empreendimentos.
- Então...O senhor pode me adiantar alguns detalhes sobre a casa. É bem espaçosa? Tem jardim? Eu tenho uma idéia do local, já estive lá perto.
- O senhor não se arrependerá. Ao ver a casa, vai querer comprar logo. A casa tem seis quartos, quatro banheiros, dependências de empregada, churrasqueira, jardim e até piscina.
- Sim... O senhor também é italiano, não?
- Sim. Sua filha estava me contando que é bisneta de italianos.
- É verdade, os avós maternos de minha esposa eram italianos.
- É. – confirma Noemi.
- Desculpe a curiosidade, mas qual o sobrenome deles? – indaga Vitório.
- Cansoni. – responde Noemi – Eram de Nápoles.
- Meu Deus... Marco e Luzia Cansoni? - pergunta Vitório. Exatamente. – confirma Noemi.
- Eu sou de Nápoles e o casal era muito amigo de meus avós.
- Que coincidência! – exclama Noemi.
O que parecia ser apenas uma visita de negócios, logo se tornava um reencontro entre duas famílias afastadas pelo tempo.
O Sr. Homero, apesar de seu jeito um tanto austero, simpatizara com o rapaz. Logo era marcada a visita ao local que muito encantou o interessado e a sua família. O promissor empresário que via o seu sucesso financeiro crescer, também sentia ser aberto o seu caminho sentimental. Vitório propôs uma forma de pagamento que muito interessou ao Sr. Homero. Tornava-se um amigo da família e seria convidado para festas em sua casa e, portanto também na nova casa de campo.
Ao passo de algum tempo, a jovem Marisa externava um sentimento maior por Vitório, conhecendo-se melhor, descobrindo suas afinidades, a relação dos dois se intensificaria num namoro. Em um ano já estariam noivos e no ano seguinte casados.
A mãe de Vitório não poderia vir ao casamento por estar enferma e faleceria três meses depois.
Aos seis meses de casados, o casal encomendara o seu primogênito e na sua inexperiência, aguardaria sua chegada de uma forma já não convencional para a época, pois este nasceria em casa. Por ocasião das proximidades do natal, passariam alguns dias na casa de veraneio de Petrópolis e a criança, que seria esperada para os últimos dias daquele ano, ou começo do vindouro, apressara-se em nascer. Para alarmar ainda mais os pais, não havia um hospital próximo e o carro enguiçara. Vitório ficou mais aflito do que a esposa, andando de lado para o outro, agitando os braços, exclamando:
- “Dio Santo”, “que faço io?”.
- Vai ter que nascer aqui mesmo – exclamou Tonha, que aprendera a fazer partos ajudando a mãe.
Rapidamente, a jovem de 18 anos, porém despachada, esquentou água, juntou toalhas limpas e preparou-se para ajudar o novo ser a vir ao mundo. Enquanto isto, Vitório comunicava-se ao telefone com o Doutor Lacosta que era amigo da família e também passava o período de férias no local.
A criança nasceu saudável, um belo menino ao qual Vitório já escolhera o nome, pois pelas estatísticas da família, deduzia que seria menino: Vitor Castelli, nascido a 22 de dezembro de l95l. O belo menino tinha um ralo cabelo, louro como o do pai e olhos castanhos, como a mãe.
Ao chegar o médico, Vitório, que ajudara a cortar o cordão umbilical, disse-lhe com seu jeito galhofeiro:
- Doutor, o senhor me deve uma “grana!”
Vitório consideraria Tonha como a segunda mãe de Vitor, já que esta tivera grande responsabilidade na sua chegada ao mundo e juntamente com Marisa, ajudaria a criar a filha natural desta, Amanda, que graças ao casal teria maiores oportunidades na vida e nasceria 11 meses depois. Tonha teria os Castelli como seus familiares, já que sua mãe, Nancy, faleceria repentinamente do coração, aos 42 anos, pouco depois do nascimento da neta.
A vida do jovem casal seria marcada por alegrias e tristezas: Quando Vitor contava apenas três meses, faleceu de enfarte seu avô, Homero.
Ao contar, porém, quase seis meses, sua mãe ficara grávida novamente e no dia 21 de março de 1953, um novo herdeiro enfeitava o clã dos Castelli: Paulo, com, olhos azuis -acinzentados que se definiriam em azuis, cabelos ralos e loiríssimos, quase brancos. O mais velho, que contava 1 ano e três meses, nem tivera tempo de sentir ciúmes.
A família crescia e o casal alternava a vida nas férias e fins de semana em Petrópolis e no restante do ano na casa em Ipanema, que por ser muito grande, abrigava ainda estes novos integrantes e dona Noemi, sentia-se só tendo ficado viúva repentinamente e logo a seguir, Ciro ganhara uma bolsa de estudos para um curso nos Estados Unidos.
Os netos significavam grande alegria em sua vida. Vitório e Marisa tinham sua casa de frente maior separada pelo quintal da casa menor ocupada por dona Noemi após o falecimento do marido. Deixara a casa maior de três quartos para a filha, vendo que esta ficara muito grande para si e que a prole dos Castelli crescia.
Ainda muito pequeno Vitor se deliciava com o quintal espaçoso e mesmo em dias de chuva, aos primeiros respingos ia à casa da avó chamá-la para o café da manhã. Tanto Vitor quanto Paulo apresentavam um bom desenvolvimento, se bem que o primeiro chamava atenção maior por ser mais irrequieto.
Um ano após o nascimento de Paulo, Vitório tem uma grata surpresa: seu irmão Fábio veio da Itália decidido a se radicar também no Brasil. Trouxe consigo sua mulher Rosa e sua filha Angelina, que na época contava apenas 7 anos. “Uma bela bambina”, segundo Vitório, com belos cabelos louros e olhos azuis. O casal gostou muito de Petrópolis e por intermédio de Vitório comprou também uma linda casa por lá.
A “fábrica Castelli” que, segundo Vitório só produzia homens – de seus dez irmãos só três eram mulheres – parecia não parar: A 13 de agosto de 1955, nascia mais um herdeiro: Genaro, este com um tipo diferente, olhos castanhos e uma penugem morena tendo puxado mais ao lado de sua mãe.
Aos 3 anos e meio, Vitor ingressava numa escola, no bairro do Leblon, para a qual sua mãe fora convidada por uma funcionária amiga sua a trabalhar como professora de música, devido ao afastamento da anterior ocupante do cargo por motivo de doença. Vitor apreciava naturalmente os momentos em que podia estar ao lado de sua mãe assistindo suas aulas, o que intensificou seu gosto musical.
Porém, com um ano de serviço, Marisa descobriu-se novamente grávida e teria que tirar uma licença.
A 15 de abril de 1957, nascia o último herdeiro do casal, Sérgio, um bebê bem gordinho, tendo puxado mais o tipo italiano do pai, com olhinhos que logo se definiriam como os de Paulo em azuis.
O “clã” estava completo. Os “quatro varões” eram o orgulho de Vitório. Logo, os outros irmãos foram crescendo e também fazendo parte do mesmo colégio.
Pouco tempo depois, Ciro voltaria para o Brasil e conheceria Mary, que se tornaria sua esposa.
A vida sorria para o casal Vitório e Marisa, mas, nem tudo era sempre “flores”. D.Noemi apresentara subitamente sinais de indisposição, complicações digestivas que descobertas num tempo avançado, não puderam ser contidas, detectando-se um câncer no fígado e pâncreas, o que ocasionaria sua morte aos 49 anos; Fábio contrairia também um câncer no pulmão e faleceria aos 37 anos, deixando Angelina órfã de pai aos 12 anos. Sendo assim, seu consolo além da mãe eram os tios e primos, inclusive Vitor, com o qual mais se identificaria.
Apesar destas tristezas, a vida continuava e os meninos cresciam apresentando diferentes características: Vitor demonstrava mais aptidão para a música, para as letras, aprendendo rapidamente a ler e de todos os irmãos foi o que apresentou maior facilidade para isto; Paulo, assim como Genaro, apresentava facilidade para cálculos matemáticos sendo que este último também apreciava a boa música, inclusive a italiana, por influência do pai; Sérgio, o mais retraído dos quatro, custara um pouco mais a aprender as primeiras letras e apesar de não gostar muito, acompanhava o pai ao futebol com os outros irmãos, só para agradá-lo.
O primogênito se fazia notar como o pequeno artista da família. Sua mãe, muito interessada em pesquisas musicais fora também convidada a apresentar programas de rádio aos quais este era companhia assídua. Ficava assistindo as apresentações, dava idéias à mãe e, quando iam assistir a alguma peça infantil, lá estava ele quase participando do espetáculo. Certa vez chamou público espontaneamente para uma peça infantil, anunciando para os que passavam: “Venham todos...!” O teatro encheu de pessoas.
O menino era muito espontâneo, mas muito genioso também. Esta característica marcaria em breve um interessante episódio em sua vida.

8 comentários:

Fábio disse...

Valeu Vinicius... Parabéns pelo trabalho, a cada dia ta ficando melhor.
continue sempre assim.
Abraço!

Vinícius Cannone disse...

Obrigado! O leitor sempre dá o retorno que o escritor precisa pra ir em frente.

Beth disse...

Oii Vinicius!!
Muito boa! bom, não deu para ler tudo, mas já vi que é boa!
Você escreve bem... um dia eu chego la também! rsrs
Parabéns pelo talento que Deus te deu, use-o com sabedoria!
A paz do Senhor...

Vinícius Cannone disse...

Amém, irmã. Eu já tinha lido, mas agora resolvi responder pra também mopvimentar meu modesto blog. Você também escreve bem e estou acompanhando com muito interesse sua história. A paz do Senhor.

Carmen Eliza Bothmann disse...

Bom Dia Vinicius!
Iniciei a leitura do livro hoje (11/01/10). Quando terminar de ler, vou postar um comentário geral no último Capítulo. Até lá!
Graça e Paz!

Leila disse...

Muito bom esse primeiro capítulo, gostei muito. A maneira como é descrito e detalhado faz com que nos sintamos parte integrante da história.
Vitório Castelli é um exemplo de homem bem sucedido por seu esforço próprio, determinação e perseverança. E Marisa um exemplo de mulher, companheira e mãe.

as linhas dos meu mundo disse...

Olha eu aki [o/]
gostei muito desse primeiro cap'.. pretendo ler os outros em brevee.. eu gostaria muito de poder ter um maior ritmo de leitura durante a semana ..
mas pretendo acelerar minha leitura nos fins de semana, ok?


O que eu poderia dizer? Como sempre, gostei muito da sua narrativaa .. muito atraente!!! .. realmente prende a atenção..

a paz!

Unknown disse...

Estou lendo novamente porque já esqueci pra poder ler o 2. Muito bom tio. Amanha leio o segundo capitulo. Bjos